De acordo com o Censo de 2010, a população indígena no território nacional soma 896,9 mil pessoas, sendo que 36,2% residem na área urbana e 63,8% na área rural. A cidade de São Paulo (SP) possui a quarta maior população indígena brasileira, com 12.977 pessoas autodeclaradas indígenas. Delas, três mil vivem em aldeias demarcadas nos bairros do Jaraguá, na Zona Noroeste do município, e de Parelheiros, na Zona Sul da cidade, e as demais estão em contexto urbano.
Mesmo assim, os indígenas que residem em cidades ainda convivem com uma invisibilidade permanente, de acordo com a publicação A cidade como local de afirmação dos direitos indígenas, elaborada pela Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPISP) e pelo Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos (CGGDH), tem como objetivo reduzir as privações e a exclusão dos povos indígenas em áreas urbanas.
A região do Pico do Jaraguá abriga cerca de mil indígenas da etnia Guarani Mbya, em que se dividem em seis assentamentos: Tekoa Ytu, Tekoa Pyau, Tekoa Ita Wera, Tekoa Ita Edy, Tekoa Yvy Porã, além da Tekoa Itakupe, que significa Aldeia Atrás da Pedra. A reserva de 76 hectares abriga 36 famílias, compostas por cerca de 100 pessoas da etnia Guarani Mbya. Como não há demarcação do território, as famílias não possuem saneamento básico e os moradores não têm recursos para a construção de novas casas.
“Estamos há 18 anos na Tekoa Itakupe e sempre tivemos dificuldade na questão da moradia porque estamos em uma terra não demarcada. De 2014 para 2015, conseguimos uma extensão de 532 hectares, aumentamos o território, mas ainda estamos numa área de proteção ambiental”, explica Mateus Vidal, morador da Tekoa Itakupe.
Com o crescimento do número de moradores, muitas famílias da aldeia foram obrigadas a conviver na mesma casa, na cozinha comunitária ou até mesmo na Opy’i (casa de reza) devido à precariedade do local. “Não há como ter saneamento básico porque os órgãos públicos alegam que a terra indígena não é demarcada. Recebemos ameaças, sofremos discriminações e resistimos à especulação imobiliária”, acrescenta Mateus.
Construção de moradias e banheiros com biodigestores
Nesse contexto, os Guarani Mbya resistem para preservar sua cultura e precisam se deslocar até outras terras indígenas para assegurar a subsistência e vender artesanatos. Com a precariedade habitacional e a falta de saneamento, a TETO Brasil, que oferece soluções concretas e emergenciais para proporcionar melhorias nas condições de moradia e habitat de territórios precários, construiu 15 moradias de emergência no local e, juntamente com a Softys e a HomeBiogás Brasil, foram cinco banheiros com biodigestores para proporcionar mais dignidade para essas comunidades.
O sistema biodigestor da HomeBiogás Brasil é conectado a um ou mais banheiros e realiza o tratamento do esgoto sanitário, de resíduos orgânicos e de esterco animal. A partir da decomposição dessa matéria, a solução produz fertilizante natural e gás de cozinha, fontes de energia limpa, renovável e sustentável, já que evita a contaminação do solo, de lençóis freáticos e afluentes, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Dependendo das condições climáticas do local, é possível produzir o equivalente a um botijão de gás comum por mês e três horas de chama por dia.
“Após a pandemia do coronavírus, voltamos a atuar em um território indígena na TETO em São Paulo por entendermos que os povos originários, para além da vulnerabilidade social encontrada nas favelas em que atuamos, contam ainda com uma tentativa constante de apagamento cultural, sistêmica e profunda há mais de 500 anos no Brasil. Realizar trabalhos de moradia e infraestrutura nestes territórios significa somar forças na luta pela resistência indígena, na preservação do modo de vida Guarani e consequentemente na preservação da Mata Atlântica e toda sua influência no nosso bioma aqui em São Paulo. É uma luta de todo mundo”, ressalta Bárbara Ribeiro, coordenadora social da TETO no estado de São Paulo.
Sobre a TETO
Trabalhamos pela construção de um país justo e sem pobreza. Em associação com a organização internacional TECHO, presente em 18 países da América Latina, desde 2006 estamos há 15 anos no Brasil, mobilizando voluntários e voluntárias para atuar lado a lado de moradores e moradoras em comunidades precárias de diferentes Estados. Juntas e juntos, construímos soluções concretas e emergenciais que proporcionam melhorias nas condições demoradia e habitat destes territórios.
Para mais informações:
Giovanna Maradei
(11) 9 89921212
giovanna.maradei@teto.org.br