*Por Aline Khouri
Imagine um grupo de familiares e/ou amigos que recebe a missão de arrecadar recursos em 30 dias para a construção de uma moradia de emergência em uma comunidade hipervulnerabilizada. Além de arrecadar o valor de R$ 16.432 (que é reajustado de acordo com o ano e a localidade), o grupo constrói a casa ao lado da família que irá recebê-la. Esta é a proposta do projeto Casas de Família, da TETO Brasil. Nesse modelo participativo, grupos de 10 ou mais pessoas têm a possibilidade de participar de todas as etapas da ação e estreitar laços com as comunidades.
A iniciativa possibilitou que Joice Batista e seu filho Henrry Gabriel, que vivem na comunidade de São Jerônimo, em Salvador (BA), deixassem de viver em um barraco feito de pallets e telhas usadas, que alagava quando chovia, e recebessem uma moradia segura.
Joice sonhava em ter uma casa própria desde a infância e, durante mais de sete anos, pagou aluguel e lutou contra o desemprego. O novo lar trouxe alegria, segurança e tranquilidade para a mãe e o filho.
“É prazeroso ver meu filho ter o espaço dele para brincar, bagunçar. Eu sempre tive o sonho de ter uma casa com quintal e, quando eu saio para lavar roupa, por exemplo, eu solto ele, deixo ele super à vontade e ele corre de um lado para o outro. Isso fazia parte de um sonho antigo meu”, conta.
Professora, amigos e familiares proporcionaram um novo lar para 10 famílias no Paraná
A professora paranaense Carolina Sari conhece bem a emoção que o Casas de Família desperta nas pessoas voluntárias e em quem recebe a moradia. Ela já participou de 10 ações do projeto e não pretende parar. “A entrega da casa é um presente. Brinco que a gente constrói com a família, mas, no fim, a hora em que você vê os olhos da pessoa entrando na casa e aquela emoção, somos nós que somos presenteados. A emoção deles é tão grande, aquele carinho e o sonho de ter uma casa segura, um telhado que não vai cair. É tão especial, mas tão especial que acabei emendando uma na outra por causa disso”, diz.
Carolina sempre leva familiares como a irmã e o cunhado, além de amigos, e conta que todos eles se sentem tocados pela experiência. Em uma de suas primeiras construções, ela se deparou com um senhor que tinha Alzheimer: “Foi uma experiência inacreditável poder conversar com a família. Era uma senhora que tinha um irmão com Alzheimer. O irmão dela nos perguntava o tempo todo o que estávamos fazendo lá, a gente explicava, dava um tempo, ele voltava e perguntava de novo. Comecei a ver como aquela realidade era diferente da minha vida porque tive mais oportunidades e eles não. Aquilo mexeu demais comigo e com minha família e não consegui mais parar”, ressalta.
A professora sempre encontra maneiras criativas para conseguir financiar as casas: rifas, feijoada e delivery, venda de sopa, bolo e água, entre outras. Sua mãe é a maior arrecadadora do grupo: no aniversário de 70 anos, ela fez uma festa para as amigas e, ao invés de presentes, pediu doações para a construção de uma moradia de emergência. Esse gesto resultou na metade do valor necessário para a casa.
“Falo da TETO com tanto amor, com tanto carinho, sempre tentei mostrar para as pessoas quem são os seres humanos que estão lá: são professores, empregadas domésticas, trabalhadores da construção civil, motoristas de ônibus. São pessoas que trabalham o dia inteiro e não têm condição, às vezes, de proporcionar para a família nem ⅕ do que eu recebi”, conta
“A TETO é uma ONG que faz com que você possa participar ativamente da ação de alguma forma. Às vezes, eu me sinto muito mais confortável numa comunidade do que num jantar de família, por exemplo, ou dentro de um shopping ou supermercado. Parece que uma acolhida que você tem numa comunidade, muitas vezes, é bem maior do que num prédio ou condomínio de casas”, completa.
Voluntário conta com dinamismo e produz pijamas com logo da TETO para arrecadar recursos
O engenheiro de soluções Rodrigo Martins também possui uma trajetória sólida dentro do projeto. Ele conheceu a TETO em 2019 e, desde então, proporcionou um lar para 11 famílias em Curitiba (PR).
“Toda construção é uma emoção nova, desde o processo de arrecadação, em que várias pessoas são envolvidas. Sempre acabamos conhecendo novos amigos nesse processo. Como a arrecadação dura 30 dias, existe muito dinamismo e novidade sempre. Em toda arrecadação, encontramos novas formas de levantar dinheiro, na última, fizemos pijamas com a logo da TETO”, afirma.
Rodrigo explica que cada construção é única e proporciona momentos essenciais para unir as pessoas: “São novas histórias de moradores, novas comunidades (ou já conhecidas com novas histórias também), novos voluntários também. O processo é bem desafiador, fisicamente e mentalmente, mas quando percebemos que estamos conseguindo gerar um alívio na realidade dura das famílias todo esse esforço é recompensado. Toda construção é uma fonte infinita de memórias e boas risadas, do ponto de vista do voluntariado eu até diria que é nossa principal característica: conseguir extrair diversão independentemente da situação em que estamos”.
Um dos seus momentos mais marcantes ocorreu em dezembro de 2022. No primeiro dia, o grupo teve muitas dificuldades, pois era um terreno muito desafiador. No dia seguinte, faltavam muitas etapas e Rodrigo ficou ansioso e apreensivo, pois acreditava que não conseguiriam entregar a casa para a família. “No fim de domingo, quando tudo deu certo, o alívio de toda a equipe foi evidente e a alegria de poder entregar a casa, mais segura e digna, foi a maior confirmação de que aquela dedicação havia valido a pena”, relembra.
Não perca tempo e participe dessa jornada de afeto e solidariedade! Clique aqui, forme seu grupo de familiares e amigos e vivencie a experiência de construir uma moradia de emergência ao lado da família que irá recebê-la!
*editora do blog da TETO Brasil