Este mês ocorre o Setembro Amarelo, uma campanha nacional dedicada à valorização da vida e da saúde mental. O período é importante também para ressaltar como a ausência de direitos básicos afeta diretamente a saúde mental de quem vive em situação de extrema vulnerabilidade social e como temos agido para transformar essa realidade.
Infelizmente, esse tema ainda é muito negligenciado. Quando falamos sobre insegurança habitacional, são comuns os debates sobre seus efeitos sobre a saúde do corpo, mas há poucas discussões sobre seus efeitos para o bem-estar psíquico de quem vive sob condições precárias.
Para jogar luz sobre esse tema, a TETO e o Centro de Estudos de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (FGV Cepesp) se juntaram para analisar, através de uma pesquisa inédita, as dificuldades e superações enfrentadas nas favelas do Brasil durante a pandemia de COVID-19. O resultado foi preocupante: diante de problemas como a falta de moradia digna, de acesso à água e à renda, muitas vezes os aspectos da saúde mental não são percebidos como problemas.
O estudo, intitulado “Covid-19: dificuldades e superações nas favelas”, evidenciou que a insegurança e o medo da Covid-19 somaram-se à dificuldade de acesso às políticas de habitação, moradia adequada e saneamento que afetam milhões de famílias brasileiras, impactando diretamente na qualidade de vida, saúde e bem-estar delas. A necessidade de moradias minimamente seguras e habitáveis ficou ainda mais evidente a partir da pandemia e as populações em situação de vulnerabilidade estiveram entre os grupos mais afetados nesse cenário.
Ao serem questionados se sentiram tristeza durante grande parte do dia anterior ao qual responderam a pesquisa, 30% dos moradores de comunidades precárias deram respostas afirmativas. Os sentimentos de solidão e isolamento também predominaram em mais de 30% dos participantes. Mais da metade das pessoas entrevistadas alegou ter sentido preocupação durante grande parte do dia anterior e 22% delas disseram se sentir mais estressadas do que o normal.
Mas, se por um lado, o estudo constatou que os níveis de preocupação, ansiedade e depressão foram intensificados durante a pandemia, por outro, ele também revelou o impacto positivo do programa de moradias emergenciais da TETO para a saúde mental dos moradores de comunidades precárias.
As pessoas beneficiadas com moradias de emergência construídas em conjunto com a TETO perceberam uma melhoria significativa nos sentimentos de solidão e uma diminuição na preocupação diária, o que consequentemente contribuiu para a diminuição da necessidade de medicamentos para depressão ou ansiedade, assim como do estresse diário.
O estudo foi realizado em 2020 e ouviu moradores de 31 comunidades precárias nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Paraná e Minas Gerais. Ainda que os dados tenham sido coletados durante o primeiro ano de pandemia de Covid-19 no Brasil, o estudo lança luz sobre a importância de discutirmos mais a fundo também a segurança e a saúde psíquica de quem diariamente é mais afetado pela desigualdade e a injustiça social em nosso país. Diante da incerteza de sobrevivência à próxima chuva ou ao frio, da incerteza de ter o que comer durante o dia ou de ter uma renda mínima para assegurar o básico para si e suas famílias, a autoestima e a saúde mental de moradores e moradoras de favelas precárias permanece sendo constantemente impactada e fragilizada.
O agravamento da saúde mental representa mais uma dentre inúmeras adversidades enfrentadas por essas famílias no dia a dia. Agir para que brasileiros e brasileiras em situação de extrema vulnerabilidade social tenham seus direitos básicos garantidos também é assegurar o bem-estar mental de quem mais sofre com a desigualdade que assola nosso país.
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