A visão que existe hoje no Brasil tanto sobre a pobreza em geral, quanto sua existência nas comunidades, acaba muitas vezes sendo mascarada e cercada de certos mitos e presunções que não correspondem à realidade. Uma das mais recorrentes generalizações, embasadas principalmente pelo ideal meritocrático, é o de que as pessoas que vivem em situação de pobreza ou moram em comunidades são acomodadas e não se esforçam para melhorar de vida por meio do trabalho. Um estudo global realizado pelo instituto americano Pew Research Center, por exemplo, aponta que 1 em cada 10 brasileiros acredita que a distância existente entre ricos e pobres se deve, principalmente, pelo fato de que uns trabalham mais que os outros.
O preconceito alicerçado pelo senso comum acaba perpetuando esta visão míope sobre os moradores de comunidades. Segundo o censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, o índice da população economicamente ativa na cidade de São Paulo é de 61%. Este patamar, por exemplo, não se distância muito da realidade encontrada nas comunidades: 60% no Murão (Carapicuíba, município a oeste de São Paulo), 61% no Pernilongo (Zona Norte da capital paulista), 59% na Portelinha (Guarulhos) e 59% em Porto de Areia (Carapicuíba). Estes dados desconstroem a ideia de moradores preguiçosos e desinteressados em relação à situação profissional. Ainda vale ressaltar que, em uma média geral das quatro comunidades, quase metade dos economicamente não ativos dedicam-se exclusivamente aos estudos.
A desigualdade, no entanto, ocorre principalmente na remuneração proveniente das ocupações dos moradores. Passa a ser gritante a má distribuição de renda que existe ao constatarmos que, em média, a renda per capita das famílias das comunidades está em torno de R$380,00 enquanto o último censo demográfico da capital paulista traz o número de R$1789,00. Este dado nos ajuda a desmistificar também os motivos pelos quais famílias passam a morar em comunidades e terrenos irregulares. A preguiça ou oportunismo, como muitos pensam, não são os principais motivos. Cerca de 65% das famílias declaram que se mudam apenas pela falta opção: não ter para onde ir contando com a renda mensal que possuem.
Deste modo, é preciso um olhar sensível junto à comunidade para entender todas as suas nuances e não se deixar levar por ideias estereotipadas. Precisamos entender que as comunidades se formam principalmente pela conjuntura socioeconômica que se desenvolveu em nosso país, e estar cada vez mais próximo se faz necessário para transformar e denunciar a realidade destas famílias.