Maria Romilda Ferreira dos Santos chegou à comunidade em 1998 e foi a terceira casa a invadir o terreno à beira do rio. “”Vó Romilda””, como gosta de ser chamada, montou sua casa durante uma madrugada, sob ameaças de ser retirada do local caso sua moradia não estivesse pronta na manhã seguinte.
Essa força de vontade, que ela demonstra em uma simples conversa, é também usada em prol dos moradores do Murão. Logo que chegou à comunidade – estava desempregada e com tempo livre – resolveu cuidar dos doentes: dava banho, andava até o posto de saúde mais próximo para buscar remédios e, quando lá não havia, encontrava outras formas de arranjar o medicamento. Vó Romilda também usava seu tempo indo a reuniões escolares quando os pais das crianças estavam trabalhando.
Com toda essa vontade e perfil solidário, por linhas tortas a vida apresentou a ela a oportunidade em fazer parte de seu
primeiro trabalho voluntário. Em 2006 suas netas brincavam em um parquinho na Vila Menk (bairro próximo), quando um brinquedo caiu dentro do rio, elas foram flagradas tentando resgatá-lo e foram denunciadas para o conselho tutelar. Mesmo em meio a uma situação de ameaça, a moradora diz que esse fato foi uma benção em sua vida. O “”Projeto Missionário Vila Capriote”” a ajudou nesse imbróglio com o conselho tutelar e a acolheu em um de seus projetos chamado “”Cuca Legal””.
Conforme o seu trabalho foi crescendo e chamando atenção dentro do projeto, Vó Romilda começou a ser remunerada para continuar fazendo o que mais gostava: ajudar os outros. Sobre o ano de 2011, quando o TETO chegou ao Murão, a moradora fala com muito carinho: “”Tenho a maior admiração por vocês. O fato de serem jovens… Poderiam estar em outro lugar, mas não, estão aqui dando muito carinho pra todos nós.””
Ela já começou a se envolver na construção daquele mesmo ano: dispôs-se a cozinhar para os voluntários e mais tarde começou a participar de outros projetos propostos pelo TETO, como cursos relacionados aos direitos que os moradores possuem, mas muitas vezes não sabem de sua existência.
Ela fala orgulhosamente que atualmente sabe quais são seus direitos e os direitos da sua família, e com esse conhecimento tenta mobilizar outros moradores da comunidade, de forma que eles também a apoiem com esses direitos pelos quais ela batalha tanto.
Hoje na comunidade, Vó Romilda, juntamente com o TETO, estão na batalha para assegurar o usucapião dos terrenos da comunidade para os moradores. Com essa ideia em mente, formaram a associação de moradores do Murão e conseguiram que a energia chegasse na comunidade, para que seus moradores pudessem pagar as contas de forma legal.
Ainda há a luta para chegar a água da mesma forma na comunidade, com a Sabesp. Com tudo isso em mente, a líder comunitária se orgulha dos avanços conseguidos pela comunidade; como asfalto em uma de suas vias principais, luz e água sem precisar de métodos clandestinos, mas diz que a conquista do usucapião junto com o TETO será o ápice para esse trabalho que tanto ama.