* Por Aline Khouri
Há favelas e favelas. É o que mostra o Panorama das Favelas e Comunidades Invisibilidades no Estado de São Paulo, lançado pela TETO Brasil em parceria com o Insper e a Diagonal. Realizado a partir de dados coletados pela ECO (Escutando Comunidades) entre 2019 e 2023, metodologia da TETO de diagnóstico comunitário, o estudo inédito apresenta uma análise de nove territórios invisibilizados e hiper vulnerabilizados, ou seja, com riscos acentuados e com reduzidas capacidades de resistir e se adaptar.
A pesquisa denuncia as violações de direitos em algumas das favelas mais empobrecidas do país e visa contribuir para o desenvolvimento e efetivação de serviços e políticas públicas nessas regiões. As comunidades mapeadas são: Verdinhas, Fazendinha, Porto de Areia, Benfica-Machado, Pedra Branca, Boca de Sapo, Comunidade da Paz, Capadócia e Tekoa Pyau.
São locais onde 43% das moradias são feitas de madeira ou sucata, 20% dos pisos são de terra ou madeira e 69% possuem problemas como calor ou frio excessivos, entrada de roedores ou insetos, infiltração de água e umidade. Outro dado que chama a atenção é que o acesso às redes formais de saneamento e eletricidade atinge somente 30% dos moradores das comunidades.
Há também uma grande fragilidade nos vínculos empregatícios, poder aquisitivo extremamente baixo, pouco acesso à educação básica e quase nenhum ingresso no ensino superior. Esses locais não estão em mapas e sequer possuem CEP.
“O imaginário coletivo sobre pobreza e vulnerabilidade do país ainda precisa equacionar as profundezas do problema para escancarar as mais dramáticas situações e iluminar potências. Nesse sentido, o esforço para a construção deste Panorama surge da indignação da organização TETO e da pesquisa com as condições das favelas e comunidades mais empobrecidas e vulnerabilizadas do Brasil”, explica Camila Jordan, diretora executiva da TETO.
Quatro a cada cinco pessoas da Fazendinha moram perto de córregos, torres de alta tensão, barranco ou lixão
A comunidade Fazendinha, localizada no município de Osasco, é um dos territórios mais vulneráveis às mudanças climáticas no Estado de São Paulo. Quatro a cada cinco pessoas moram perto de um córrego, torre de alta tensão, barranco ou lixão, o que potencializa os riscos sofridos pelas famílias do local. Segundo a pesquisa, 12,5% dos moradores relataram que suas moradias sofrem inundações 10 vezes ou mais a cada ano.
O Panorama das Favelas e Comunidades Invisibilidades no Estado de São Paulo ressalta uma evidente sobrecarga territorial nas favelas mapeadas. Todos os domicílios das comunidades Pedra Branca e Capadócia estão em situação de risco e até mesmo em comunidades com menos pessoas em risco, como em Verdinhas, um a cada cinco domicílios está suscetível ao desabamento.
Racismo estrutural: sete a cada 10 pessoas das comunidades são negras
A pesquisa evidenciou também a relação entre raça e vulnerabilidade, ao mostrar que sete a cada 10 pessoas das comunidades são negras, 76% dos desempregados são pessoas negras e que três a cada quatro mulheres em situação de desemprego também são negras. Os números da comunidade Pedra Branca são alarmantes: 70% das mulheres desempregadas são negras.
O recorte de gênero comprova que as mulheres negras que vivem nesses territórios estão sujeitas a mais vulnerabilidades e desafios. Ainda assim, muitas dessas mulheres exercem papéis de liderança comunitária e se tornam exemplos de cuidadoras nos territórios.
Isso acontece também em outros territórios em que a TETO atua, como mostram as histórias de Naiara Rocha, liderança da comunidade Guarani Kaiowá, em Contagem (MG), e de “Mãezona“, que se dedica à defesa da comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro (RJ).
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*editora do blog da TETO Brasil