Em jantar comemorativo, a TETO promove diálogo entre lideranças comunitárias e empresas, ressaltando potencialidades das comunidades.
Poder Interno Bruto (PIB). O termo utilizado pela montanhista Aretha Duarte se refere a aspectos fundamentais que a tornaram a primeira mulher negra latino-americana a subir o Everest em 2021.
A conquista foi árdua, mas ela conseguiu arrecadar os US$ 67 mil necessários para realizar o sonho de subir a montanha mais alta do mundo, em grande parte devido à coleta de materiais recicláveis. Com a ajuda de amigos, juntou 500 quilos de sucata diariamente para vender.
Além disso, promoveu a venda de roupas, bazares, vaquinha online, vendeu o carro e recebeu alguns patrocínios. Nascida no Jardim Capivari, bairro da periferia de Campinas (SP), ela compartilhou sua saga inspiradora durante o jantar de aniversário de 15 anos de atuação da TETO no Brasil.
“A periferia é o lugar onde os improváveis e invisíveis moram. Ela está cheia de potência. Essa realização não é só minha, estava representando mulheres e as periferias. Dos 25 brasileiros que subiram o Everest, não tinha nenhum negro. Eu tinha Poder Interno Bruto dentro de mim, o poder de sonhar e realizar. Esse é um poder não lapidado na periferia, as pessoas têm poder, mas sem investimento, não crescem”, ressaltou a montanhista.
Sua história traduz a essência dos questionamentos que nortearam o evento, realizado em São Paulo: Quem são as potências das comunidades? O que elas poderiam construir e realizar caso investimentos não fossem um problema?
Mais de 4500 famílias se uniram a TETO para construção de moradias
Ao reunir 10 lideranças de comunidades e líderes de grandes empresas e organizações, a TETO celebrou sua atuação em defesa de uma sociedade justa e sem pobreza e proporcionou um espaço de diálogo entre potenciais doadores e lideranças, que puderam expor seus sonhos e as potencialidades das comunidades em que vivem. O jantar também tinha uma importante missão: arrecadar R$ 77 mil para a construção de cinco moradias ainda neste ano. Em 15 anos, a organização se uniu a mais de 4500 famílias para construir moradias em favelas precárias do país, concretizou mais de 170 projetos, juntou-se a 150 comunidades e mobilizou mais de 76 mil voluntários no país.“Tudo começou com um sonho que continua intacto: uma América Latina, um Brasil onde ninguém more numa casa com chão de terra batida. Uma sociedade justa e sem pobreza onde todo mundo tenha as oportunidades para se desenvolver como cidadão e cidadã. O Brasil é um país desigual com mais de 50 milhões de pessoas em situação de pobreza e as favelas precárias são a materialização dessa desigualdade. Toda vez que pisamos numa comunidade, vemos e vivemos a favela como um lugar de potência e isso nos revolta, porque sabemos o potencial que está sendo desperdiçado pela desigualdade estrutural que se materializa em ciclos de exclusão. Temos certeza que quem constrói uma casa, horta, banheiro ou uma sede comunitária aprende o poder do coletivo e sai dessa experiência com mais força para sonhar e realizar”, enfatizou Camila, diretora-executiva da TETO, acrescentando que a sociedade brasileira retrocedeu 20 anos na erradicação da pobreza.
Conhecida pela construção de moradias de emergência, a TETO tem investido cada vez mais na ampliação da sua atuação, que inclui, por exemplo, a execução de diagnósticos participativos na comunidade, a aplicação de pesquisas e censos, além da construção de projetos de infraestrutura, como a instalação de sistemas de captação de água da chuva, banheiros modulares com biodigestor, lavatórios, sedes, refeitórios e hortas comunitárias. Um portfólio de soluções criadas a partir das urgências apontadas pelas comunidades e colocadas em prática com o protagonismo delas.
Lideranças dialogam sobre união e resiliência
Durante o jantar, o gerente social Ygor Melo mediou uma roda de conversa com quatro lideranças: Marcela, Edite, Josiane e Ricardo. Eles ressaltaram o quanto são marginalizados pela sociedade e seu papel como líderes nas comunidades.
“Ninguém consegue fazer nada sozinho. Um líder é eleito como um presidente, um prefeito e primeiro ele precisa assumir e entender a responsabilidade que tem porque ninguém escolhe ser líder, mas é escolhido. A liderança é muito mais do que a construção de uma casa e um banheiro, mas tem que estar presente a todo momento”, destacou Marcela, liderança de Benfica, em Guaianases, ao contar como a comunidade construiu sua primeira cozinha comunitária ao lado da TETO.
Ricardo relatou que a comunidade de Malvinas, em Guarulhos, tem 65 anos, mas ainda precisa de itens básicos para ter qualidade de vida:
“A comunidade não tem uma creche, um posto de saúde, não tem uma escola ou praça pública. Necessitamos de ONGs que saibam que não é só resolver a pobreza, precisamos também de educação”.
Além de incentivar os convidados a fazerem doações, a TETO também promoveu a venda de experiências como construção e pintura de moradias. No total o jantar arrecadou R$105.400,00 para assegurar que cada vez mais pessoas tenham uma vida digna.
Sobre a TETO Brasil
A TETO é uma organização que atua há 15 anos no Brasil, pois acredita que superar a pobreza é uma questão urgente, que demanda uma ação imediata e uma escuta atenta à realidade das pessoas mais vulneráveis.
Para isso, a organização usa a construção de moradias de emergência e outros projetos comunitários como ferramenta para o desenvolvimento de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres: quem constrói uma casa, horta, banheiro ou sede comunitária aprende o poder do coletivo e sai dessa experiência com mais força para sonhar e realizar.
Para mais informações:
Giovanna Maradei (11) 9 89921212 giovanna.maradei@teto.org.br