Você conhece o conceito de tecnologia social? Segundo o Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil), ele é definido como “um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida”.
A TETO Brasil utiliza uma tecnologia social chamada mesa de trabalho, um método participativo que conta com a presença de pessoas voluntárias e moradores das comunidades. A tecnologia social possibilita que as primeiras ações e projetos realizados em conjunto com as comunidades sejam ágeis, de baixo custo, simples e com impacto concreto e imediato. Seu objetivo é facilitar a gestão comunitária e desenvolver projetos para melhorar a inclusão social e a qualidade de vida nesses territórios.
As pessoas voluntárias que participam da mesa de trabalho são do setor de gestão comunitária da TETO, responsável pela conexão e articulação com a comunidade. Elas visitam periodicamente a comunidade e conduzem espaços de troca e tomada de decisão. Segundo Laís Duanne, gestora de sede da TETO no Nordeste, as mesas de trabalho são adaptadas para cada realidade e, por isso, a duração delas varia muito.
Etapas
Antes de iniciar uma mesa de trabalho, a TETO segue uma metodologia que envolve algumas etapas. Primeiro, acontece a ECO (Escutando as Comunidades), na qual voluntários realizam enquetes com a comunidade para coletar informações socioeconômicas da região. Em seguida, é a vez da apresentação de dados, que também são disponibilizados no Mapa de Direitos, plataforma aberta que qualquer pessoa consegue acessar.
A organização complementa as informações com relatos de moradores e isso é utilizado como base para outro momento chamado de diagnóstico participativo. “É quando sentamos com toda a comunidade e fazemos um diagnóstico. Questionamos os moradores sobre as principais problemáticas, desafios e dores. Apresentamos esses resultados para os moradores e discutimos a partir daquilo. Se percebemos nos dados que 60% dos moradores são crianças, instigamos a comunidade a falar sobre aquilo. ‘Essas crianças estão na escola?’, ‘Onde brincam?’ e ‘Como é o acesso dessas crianças à alimentação e à água?’, conta Laís.
Existe outra etapa chamada priorização de projetos, que é o momento de compreender quais demandas serão colocadas em primeiro plano. Depois, começa a mesa de trabalho, com debates para construir soluções colaborativas.
Comunicação horizontal
Uma das principais características da mesa de trabalho é a comunicação horizontal, que estimula o diálogo e a troca de ideias. Por isso, os moradores são protagonistas em todo o processo.
“Essa premissa da comunicação horizontal é básica para o trabalho que a gente faz, tanto que quando apresentamos a mesa, seguimos a lógica ‘dois e dois’. Se eu tenho dois voluntários, preciso ter pelo menos dois moradores para que as vozes sejam minimamente igualitárias. Sempre buscamos que a mesa de trabalho tenha mais moradores do que voluntários”, explica Laís.
Ela destaca que os voluntários são mediadores do processo, mas não possuem o poder de tomada de decisão final: “Não faz sentido, a partir do nosso trabalho na TETO, levar soluções prontas para a comunidade ou pontuar o que acreditamos ser o melhor caminho. O melhor projeto ou solução para nós é construído a partir da nossa perspectiva, de alguém que, muito provavelmente, vive em outro território e contexto”.
“Na mesa de trabalho, é estabelecido e deixado muito claro como os moradores são responsáveis pela tomada de decisão final da construção, o que funciona ou não, porque eles conhecem o território. A TETO entra ali como um agente externo que busca potencializar o desenvolvimento territorial, mas é composta por pessoas que não vivem aquela realidade”, acrescenta.
Autonomia e desenvolvimento de capacidades comunitárias
Em todo o processo, a TETO sempre trabalha em conjunto com os moradores que também são co-responsáveis na execução de cada projeto. Além de estreitar os laços da organização com os moradores, o protagonismo dos moradores contribui para o fortalecimento de quatro capacidades comunitárias: identidade, participação, organização e trabalho em equipe.
“A TETO atua nos territórios buscando sair deles. Nosso objetivo é sair do território e não precisar mais atuar lá, levar essa comunidade para um lugar de autogestão, que essa comunidade consiga gerir suas próprias demandas, buscar soluções, sem necessariamente ter agentes externos apoiando esse processo. Desenvolver a autogestão é potencializar os moradores nesse lugar de liderança”, observa Laís.
“Muitos são lideranças nos seus próprios territórios, mas não necessariamente se veem nesse lugar. O racismo, a autoestima e diversos outros aspectos fazem com que essas pessoas não se vejam enquanto lideranças e articuladoras. Compartilhamos como construir um plano de ação, mostrando todas as possibilidades do que é possível fazer para além da comunidade”, conclui.
Exemplo prático: três ações na comunidade Fazendinha
Em 2022, a mesa de trabalho feita na comunidade Fazendinha, localizada em Recife (PE) resultou em um plano de ação chamado “Fazendinha, meu amor”, nome escolhido pela própria comunidade e que mostra o afeto e a relação de pertencimento dos habitantes em relação ao local.
Na época, a cidade registrou fortes chuvas e a primeira ação foi um mutirão de limpeza em parceria com a ONG Xô Plástico. Como algumas moradias haviam sido danificadas, a TETO fez uma ação de reparo nas construções e um sistema de drenagem na comunidade com o objetivo de minimizar os transtornos causados pelas chuvas. Tudo isso só foi possível graças à atuação em conjunto da TETO com os moradores, que participaram de todas as etapas do projeto.
Como você percebeu, a atuação da TETO em comunidades vulneráveis vai muito além da construção. Queremos proporcionar autonomia para seus moradores e, para isso, precisamos do maior número de pessoas possível. Faça uma doação e nos ajude a transformar vidas!