Fátima Andreia Monteiro já deu muitos passos ao longo de sua vida e hoje, como integrante no Movimento Negro Unificado, ela ajuda outras mulheres e crianças negras a darem seus passos também. Moradora da comunidade Jardim Gramacho, localizada em Duque de Caxias (RJ), há 42 anos, Fátima tem dois filhos, já foi catadora de lixo, empregada doméstica, diarista e hoje é agente comunitária de saúde. “E sou uma mulher negra. Mas nem sempre fui uma mulher negra que se aceitou”.
A vida de Fátima começou a mudar quando ela conheceu o Movimento Negro Unificado, por meio de uma amiga que trabalha com o empoderamento da mulher negra dentro da favela. “A Dona Leninha nos ajudou muito nesse sentido. Ela nos ajudou fazendo reuniões, nos organizando, levando informações sobre a questão racial, sobre a luta que devíamos lutar. E nisso, a gente foi aprendendo aos poucos e se engajando. E eu gosto de estar nos movimentos. Porque quando uma mulher negra dá um passo, ela não está mais no mesmo lugar. Então, tudo aquilo que eu não sabia antes, hoje eu tento passar pra frente também”, conta.
Participante frequente das reuniões do Movimento, Fátima conta que o objetivo é reunir as mulheres negras para que elas entendam que nem tudo precisa ser do jeito que está. “Elas precisam aprender um pouco da nossa história, que nós não somos os coitadinhos – ajudamos a construir esse país. Elas precisam discutir sobre a violência contra a nossa juventude, o extermínio, aprender a lutar por melhores condições de vida”, afirma. Segundo Fátima, as mulheres negras são maioria vivendo nas favelas, sem lugar para colocar seus filhos para poder trabalhar, é a maioria que está desempregada. “Estamos em total desvantagem. Muitos dizem: as oportunidades são iguais. Não são iguais. Se forem conhecer a nossa história… ela não foi igual”.
De acordo com Fátima, existem vários fatores que contribuem para que uns cheguem onde querem e outros, não. “Na nossa situação, a questão racial define muita coisa. O fato de ser negro nos tira ou nos dá muitas coisas: nos dá um lugar na favela, nos dá um lugar no índice de homicídios, piores serviços de saúde, educação de má qualidade”. Além disso, Fátima conta já ter sofrido várias formas de preconceito. Desde alguém não querer atendê-la em determinados locais, ou então ignorar completamente a sua presença em alguns lugares.
Fátima ressalta a importância de incluir a criança e o jovem nessa luta desde cedo. Para ela, esse trabalho de reconhecimento e valorização da cultura e da raça negra deve ser feito com as crianças também. “Não tem como você ir à luta querendo mudar uma geração, se você não começa fazendo com que a criança acredite nisso. Tem que ir fomentando. Temos de incentivar nossas crianças e jovens a se amarem como são, a se aceitarem como são, verem beleza neles e transmitirem essa beleza com confiança”, conclui