Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer…”
(Zumbi – Jorge Ben Jor)
Há dez anos no Brasil, o TETO compreende que o racismo é um problema real que necessita ser enfrentado e vê a importância da pobreza ser encarada como um conceito complexo provocador de silenciamentos, algo que nunca pode ser dissociado de uma análise que inclua a dimensão racial.
Conforme dados coletados pela organização nas favelas de São Paulo, em 2016, 70% de seus moradores são negros, incluindo os que se autodenominam pretos e pardos.
Já a Bahia, especificamente a cidade de Salvador, ocupa um espaço de tensões que dialoga com a raça e classe de seus habitantes. Oitenta por cento dos soteropolitanos se consideram como pardos ou negros, um dado importante na caracterização de uma cidade que vivencia constantes enfrentamentos a fim de ver efetivado um real direito à cidade, fator crucial para a minimização da violação de direitos e superação das vulnerabilidades. A segregação socioespacial obriga que pessoas negras e vítimas da pobreza continuem afastadas das oportunidades básicas para se obter qualidade de vida. Também é a mesma segregação que invisibiliza os saberes locais das comunidades e estereotipa suas condutas como se fossem exóticas ou reprováveis.
A luta responsável por enfrentar o racismo institucional e estrutural necessita ser protagonizada pelas pessoas negras vítimas da opressão. É imprescindível que as suas falas surjam nas ruas e em outros espaços de poder, a fim de que os embates sejam expostos e que mais pessoas se aliem a um discurso de empoderamento, capaz de reagir aos constantes ataques organizados pela maioria da sociedade que oprime em face das minorias sociais. No entanto, mesmo com o respeito ao local de fala desses sujeitos, torna-se urgente a participação de cada indivíduo, seja branco ou negro, em se aproximar dos debates relacionados às questões raciais e assumir a sua parcela de responsabilidade: seja no combate direto ao racismo, seja no reconhecimento dos seus próprios privilégios.
É papel do TETO reconhecer que o racismo é um dos principais elementos na estigmatização das comunidades periféricas do Brasil, algo que dá às favelas contornos de um ambiente de exclusão e impossibilidade de concretizar sonhos. É urgente observar que a pobreza tem cor e que igualdade social não pode ser dissociada da luta contra o racismo.