Por Victor Ferreira
A ECO (Escutando Comunidades) retornou em 2017 com novidades. Durante o evento, que ocorreu nos dias 25 e 26 de março, os voluntários que trabalharam na comunidade Nova Conquista fizeram as pesquisas com o uso do aplicativo Kobo Collect. A decisão de utilizar a ferramenta digital foi tomada pela matriz do TETO no Chile em parceria com a empresa Kobo.
“Com o aplicativo, o retorno dos dados é muito mais rápido. Ele elimina a fase de tabulação, que era passar os dados do papel para uma tabela no computador. Agora os dados vão direto para o computador”, conta Bráulio Carli, coordenador de Diagnóstico Comunitário do TETO. “Antes tínhamos o relatório pronto em um mês e meio, mas agora dá para tê-lo em uma ou duas semanas”, completa.
Essa é a primeira ECO que muda o método de coleta. Até o ano passado, todos questionários eram feitos em papel. Segundo Bráulio, o uso do questionário digital também diminui a interferência do erro humano, aumentando a consistência dos dados coletados.
O aplicativo foi testado em pilotos durante o ano de 2016. “Aplicamos algumas enquetes em comunidades em junho, e em outubro o teste foi feito na ECO em algumas zonas das comunidades”, conta Bráulio.
Outra mudança relevante na ECO em 2017, que também aplicou enqueter nas comunidades Chatuba, em Guarulhos, e Olga Benário, no Campo Limpo, é no questionário. Até o ano passado, junto com a Enquete de Caracterização Socioeconômica, aplicava-se a Enquete de Designação, que buscava saber se a família teria desejo de ter a casa construída pelos voluntários do TETO. “Era uma pergunta que gerava expectativa na família, mas a construção para aquela família específica era só uma possibilidade”, explica o coordenador.
Neste ano, ao invés da Enquete de Designação, será perguntado aos moradores se há interesse dos membros da família em participarem das reuniões e atividades do TETO naquela comunidade. Para o coordenador, a mudança é bastante simbólica. “A última pergunta hoje ser sobre as reuniões junto da equipe fixa é uma mudança simbólica e muito grande. Consolida o papel da ECO dentro do modelo de trabalho de desenvolvimento comunitário”.
O que é a ECO?
A ECO, ou Escutando COmunidades, é o segundo evento massivo que uma comunidade recebe. O primeiro é o Mutirão de Visitas (MV), que traça um perfil geral sobre a comunidade. O objetivo da ECO, por outro lado, é traçar um perfil socioeconômico a nível familiar dentro das comunidades. Os dados coletados servem de apoio para as equipes fixas das comunidades e também para que a própria comunidade se conheça melhor. Eles também podem auxiliar a comunidade em demandas perante o poder público.
“Além disso, a gente tenta desenvolver uma importância social, usar esses dados para nos tornarmos referência no conhecimento dos assentamentos informais na Grande São Paulo”, conta Bráulio Carli. Os dados da ECO ajudam na produção de material de divulgação para sensibilizar a população em geral sobre a causa defendida pelo TETO.
“A ECO não tem prazo de validade, mas tentamos atualizar os dados de uma comunidade a cada dois anos, pois a realidade comunitária é bastante dinâmica”, explica.
Até 2014, a ECO era denominada Detecção Massiva e buscava encontrar famílias com perfil adequado para receberem construções de moradias emergenciais. A situação mudou quando o TETO passou a valorizar não apenas as construções, mas também o desenvolvimento comunitário.
As alterações recentes no evento foram coordenadas por Bráulio Carli e Bruno Albuquerque, novo diretor da área de Diagnóstico. Além das alterações já citadas, houve também ligeiras mudanças no questionário. Todos os voluntários fixos e os que haviam participado das ECOs anteriores foram convidados a colaborar. “Foi enviado um formulário com as perguntas do questionário e, em seguida o voluntário poderia dizer se mudaria alguma coisa naquela pergunta”, explica Bráulio. Foram recebidas cerca de 50 colaborações.
“Proximidade entre o voluntário e o morador”
Outro aspecto relevante da ECO é a oportunidade que dá ao voluntário de conhecer as famílias e de se sensibilizar com a realidade de cada uma delas. O voluntário Victor Valvezan participou de duas ECOs em 2016, nas Malvinas e na Fazendinha. Além disso, já participou de construção e de três MVs.
Victor conta que aprendeu dentro de casa a tentar fazer a diferença pelos outros e que teve experiências impactantes nas ECOs anteriores.
“Na primeira casa que entrei, nas Malvinas, a casa tinha 3×3 metros, uma cama de casal, um fogão e uma caminha de bebê. O teto tinha buracos. Dentro do berço tinha um gato, não uma criança. O morador disse que ali moravam ele, a mulher, a filha da mulher e a filha da filha da mulher. Dormiam ali, todos na mesma cama”, conta.
Segundo ele, ao ser perguntado se gostaria de ter uma casa construída pelo TETO, o morador surpreendeu dizendo que não queria, que ele mesmo construiria a sua casa e que a instituição poderia construir para quem mais precisasse. “Foi uma sensação muito forte. Apesar da situação em que se encontrava, ele tinha gratidão pelo que possuía”, relata o voluntário.
Ele também contou da vez em que, durante a formação, já na escola em que passariam a noite, os voluntários passaram por uma simulação de remoção. “Foi uma correria. Pra onde vamos? Vamos ter que sair da escola ou não? Passar por essa sensação de desamparo foi bem forte. Deu uma boa noção do que é passar por isso numa comunidade”.
Na ECO 2017, Victor liderou uma equipe na Nova Conquista. “A ECO é o evento que traz mais proximidade entre o voluntário e o morador. Para ambos é importante. Para o morador se sentir mais amparado e para o voluntário ter contato com essa outra realidade”, conclui.