A Copa do Mundo vem chegando ao fim, a tensão e o nervosismo aumentam. Dois jogos pela frente definirão os três melhores times do mundo em 2014. E no meio disso tudo um país: Brasil.
O maior país da América Latina em superfície e população e o que mais venceu Mundiais – é pentacampeão – e está organizando a sua segunda Copa do Mundo. Parecia o país perfeito para jogar e sediar a Copa. Tudo seria festa, samba e carnaval. Pode ser por isso que os protestos massivos contra a Copa, que começaram há um ano, chamaram tanta atenção.
A Copa do Mundo no Brasil é a mais cara da história, com custos três vezes maiores que o orçamento inicial, alcançando o valor de 11.754 milhões de dólares. É também um evento que vai deixar estádios construídos em cidades onde sequer há grandes equipes profissionais, entre outras coisas. Tudo isso contrasta com os quase 40 milhões de brasileiros que vivem em situação de pobreza no país do futebol.
São 40 milhões que não estão nessa situação por causa da Copa, mas por estruturas injustas, pela indiferença e por preconceitos que são mais velhos do que o futebol e qualquer outro esporte que praticamos hoje.
Nesse caso, o que a Copa e os Jogos Olímpicos Rio 2016 fizeram foi aumentar e fazer visível esta situação: é falado que por causa das obras de ambos os eventos foram despejados cerca de 250.000 famílias, sem levar em consideração os seus direitos e o seu futuro. Mas acreditar que as violações dos direitos humanos nos assentamentos precários é uma coisa exclusiva da Copa ou dos Jogos Olímpicos, e pensar que eles vão acabar depois que esses dois eventos passarem, é ignorar a realidade que enfrentam as pessoas que vivem em constante instabilidade e que fazem parte das cidades que sequer os vêem.
Relatórios realizados pela Human Rights Watch revelaram, em 2009, características de violência policial no seu informe anual. Esses dados se repetem na versão de 2013, no capítulo dedicado ao Brasil, com destaque para o profundo nível de violência que atinge as favelas.
Não só no Brasil, mas em grande parte do nosso continente e do mundo, os direitos humanos das famílias mais vulneráveis parecem não existir há muito tempo, contudo, eles não são notícia. Observamos isso em todos os países onde trabalhamos; no acesso desigual à saúde, educação, trabalho e propriedade, só para citar alguns exemplos. Mas também vemos, nos mesmos países, comunidades que procuram se organizar e que trabalham incansavelmente buscando e reivindicando os seus direitos.
Há muitos casos específicos. Um deles é “”Anita Garibaldi””, uma favela a 10 km do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, lugar onde milhões de pessoas chegaram para ver as estrelas do futebol jogarem. No entanto, ninguém sabe da existência desses 16 jogadores que formaram a sua equipe quase ao mesmo tempo que o grupo de 300 famílias assentou-se na zona. Aprofundar-nos em sua realidade e conhecer o seu time de futebol nos lembra como é simples e popular este esporte e como ele ajuda na superação pessoal, nas amizades e no sonhar grande.
Denunciar as violações que ocorrem em Anita Garibaldi e nos milhares de assentamentos informais da América Latina deve ser o primeiro passo, não o único. Se ainda existem, no nosso continente, 113 milhões de pessoas que moram em assentamentos precários, é porque não existe uma clara vontade política, nem da sociedade, para que isso mude.
E essa mudança só pode vir na medida em que a gente conhece e se integra às famílias das comunidades mais vulneráveis. Se queremos soluções sustentáveis, comecemos por ouvir e trabalhar em conjunto. A equipe da Anita Garibaldi o demonstra: trabalhando juntos não há desafios impossíveis.
Agustín Algorta, diretor regional do TETO para o Cone Sul e Brasil.
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Para denunciar sua realidade e das mais de 6.300 favelas do Brasil, o Anita Garibaldi F. C. desafia o campeão do mundo. Será que Argentina ou Alemanha aceitará o desafio de jogar no campo de um favela contra o time que leva seu nome? Conheça mais sobre o Desafio Anita e faça parte da torcida: http://techo.org/desafioanita