De 9 a 12 de outubro, cerca de 200 jovens estarão vestindo, literalmente, a camisa da ONG TETO, para participar da terceira construção de 2015 no Rio de Janeiro. A data da atividade coincidiu com o feriadão de Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças, duas datas importantes no calendário brasileiro.
Enquanto muitos de seus amigos e familiares decidiram viajar para descansar durante o feriado, os voluntários escolheram a data para arregaçar as mangas, se sujar de lama e ajudar a levantar as 14 casas que serão construídas nas comunidades de Jardim Gramacho e Parque das Missões, duas favelas localizadas em Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio de Janeiro.
A construção é umas das atividades do TETO, na qual os voluntários de dentro e fora da comunidade, constroem moradias de emergência para famílias em situação de precariedade. Durante todo o período, os voluntários ficam alojados em escolas nas proximidades da comunidade, onde dormem, se alimentam e participam de atividades reflexivas. Durante a atividade não há banho, principalmente por estarem em comunidades onde a água é um recurso escasso.
“A construção é sempre um momento de denúncia, descoberta e envolvimento. Nessa perspectiva, esperamos voluntários que se conscientizem sobre a realidade das comunidades, que se descubram inseridos nessa dinâmica social e que se comprometam com essa causa”, afirmou Ebenézer Júnior (30), líder da construção de outubro junto a Talita Lavor (24). A dupla está planejando a atividade desde agosto e irá liderar os 200 voluntários que esgotaram as vagas no primeiro dia de inscrição.
Yasmin, ou Mica, como é conhecida na comunidade, é uma das moradoras que vai construir a própria casa junto aos voluntários. Grávida de oito meses, a menina Kemilly Sophia, que deve nascer dias antes da construção, é o principal motivo pelo qual procurou o TETO. Hoje ela mora num barraco com o esposo e o filho mais velho, Kelvin, de dois anos.
Para participar, ela e os outros 13 moradores têm que cumprir algumas tarefas. Entre elas, se comprometer com o pagamento de uma taxa simbólica (200 reais) e frequentar regularmente as reuniões com os chefes de escola, voluntários que visitam a comunidade semanalmente e que são responsáveis pela triagem das famílias beneficiadas. Na triagem, os chefes de escola buscam famílias que vivem em situação de risco e que apresentam potencial de engajamento na comunidade, pois o objetivo do TETO com as construções não é apenas dar uma moradia mais digna, mas principalmente desenvolver líderes comunitários, pessoas que possam se tornar braços fortes para lutar pelos direitos de toda a população da área.
Hoje com 21 anos, Mica não se lembra quando foi morar “nesse fim de mundo”, como se refere ao bairro. Sua mãe morreu quando ela tinha oito anos e na época foi morar com a tia. Aos 14 anos deixou a tia para morar em seu próprio barraco. Mica nunca soube o que é ter uma casa. Participar da construção será a chance de dar a vida que nunca teve para seus filhos. “Quando chove, meu barraco molha, não quero que meus filhos cresçam desse jeito.” Uma casa significa mais segurança para que crianças como Kelvin e Kemilly Sophia possam dormir com conforto e sonhar com um futuro melhor.
A presença do TETO nessas comunidades é uma tentativa de evitar que histórias como a de Mica continuem se repetindo. As crianças são as mais vulneráveis nesses locais, passam o dia brincando nas ruas enlamaçadas, misturando-se com o lixo, parte componente dos barracos e da paisagem local. Sem perspectiva, desde muito cedo elas percebem o seu não-lugar na sociedade, o lugar mais esquecido, para onde vai tudo o que se quer jogar fora. O Jardim Gramacho ficou conhecido por abrigar o maior lixão da América Latina, o aterro Gramacho, fechado em junho de 2012 devido à Lei 12.305/2010 do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece a proibição de lixões ao céu aberto desde 2014. A intervenção do poder público não incluiu, porém, a implementação de um plano efetivo de reinserção social dos moradores da região, que faziam do lixo sua principal fonte de renda.
Para os voluntários, participar da construção é ver de perto a realidade de mais de 16 milhões de brasileiros que vivem na extrema pobreza.
Danielle Macieira (22), voluntária que vai construir pela primeira vez, contou sobre o que espera da atividade: “Tenho certeza que essas famílias terão suas vidas modificadas para melhor depois da construção e muita gratidão por saber que de alguma forma vai mudar minha vida também. Nada mais simbólico que o Dia das Crianças para levar o sentimento de alegria, esperança e energia para a construção”, concluiu a universitária.
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