Por: Tamires Lietti
Lane é uma líder nata. Ainda que parte do grupo de jovens moradores da comunidade Souza Ramos, ela carrega consigo a vontade e o perfil necessário pra representar sua comunidade. Por incrível que pareça, ela afirma que nem sempre foi assim. Sempre foi tímida, e acredita que tenha mudado de maneira espontânea, conforme foi vivendo sua juventude. Lane é uma jovem de 19 anos que leva uma vida comum. Ela frequenta escola e cursos paralelos e, no fim do dia quando a rotina já foi cumprida, volta pra casa. E nesse voltar pra casa de todos os dias, Lane com seu olhar certeiro, começou a perceber a cada dia que passava, o que acontecia ao seu redor A partir daí, nasceu sua vontade de transformar aquele lugar.
Com a timidez já no passado, ela tomou uma decisão. Sempre gostou de ajudar as pessoas, Lane agora queria ajudar os que estavam mais perto dela. Organizada e disciplinada, Lane se tornou peça essencial nas reuniões de domingo, nas discussões comunitárias, e na execução de planos dentro da comunidade. Percebeu que seu maior sonho era um lugar melhor pra morar, livre de violência. Um lugar onde as pessoas se ajudam mutuamente e onde o bem estar comunitário é prioridade. E por isso Lane é tão dedicada. Nunca foi acomodada e sempre maquinou demais ideias em sua cabeça. A liderança é fator importante na vida de Lane e traz a ela uma grande satisfação interior. Ela adora promover a cooperação entre os moradores e ser parte disso. Vive assim, entre as carteiras da escola, os cursos periódicos e as reuniões semanais, fazendo a diferença em cada um desses lugares. Lane nunca desliga completamente. Não nega sua energia quando comentam a respeito dela e acredita que o abandono da timidez teve impacto bem positivo em sua vida.
Muito espontânea, é difícil acreditar que Lane coloca-se como uma pessoa descrente. Ainda que todos apontassem e reconhecessem sua capacidade de liderança e seu potencial, a jovem moradora hesitou algumas vezes quando chegou o momento de se inscrever para o Encontro de Liderança do TECHO, no México. Ela mesma conta que só fez a inscrição por pura pressão e graças a todos que pressionaram, Lane hoje tem ainda mais bagagem e experiência para dividir com a Souza Ramos, e tantas outras favelas do Brasil. Ela ainda não acredita que a viagem aconteceu e que com seus meros 19 anos ela já tenha vivido essa história pra contar.
Filha de pais mais quietos, como ela mesma gosta de colocar, Lane não sabe dizer de onde veio sua desenvoltura e sua envolvente capacidade de comunicação. Sua mãe sempre esteve ao seu lado e apoiando os passos que ela vem dando e seu pai a apoia por inércia. Apesar disso, nunca se arrependeu de tudo que fez e dos planos que tem em mente. Seu pai a repreende dizendo que se algo de ruim acontecer, é na porta dela que as pessoas vão bater. Mas talvez ele não saiba que Lane nunca teve medo disso.