O dia 28 de junho é marcado pela lembrança da revolta de Stonewall, um bar frequentado pela comunidade LGBTQIA+ de Nova York em 1969. Na época, ser homossexual ainda era considerado crime e também uma doença nos Estados Unidos. As pessoas frequentavam o bar porque era um dos poucos espaços na cidade em que elas poderiam conhecer e se reconhecer em outras pessoas de sexualidade dissidente.
O Stonewall vinha sofrendo consecutivas batidas policiais, que além de agredir moralmente e fisicamente, extorquiam financeiramente as pessoas que ali frequentavam. Até que na madrugada do dia 28, as vítimas decidiram resistir aos abusos dos agentes de insegurança pública, utilizando as armas que tinham ao seu alcance: copos, garrafas, cadeiras e outros objetos de uso cotidiano. Mas ousaria dizer que as armas mais importantes daquela data foram a coragem e a resistência.
Em menos de 24 horas uma multidão com cerca de duas mil pessoas estava se manifestando do lado de fora do bar em defesa da liberdade de ser e de amar quem elas quisessem. As manifestações passaram a ser recorrentes no local, que virou símbolo de luta e resistência da comunidade LGBTQIA+ não só de Nova York, mas em todo o mundo. Um dia para lembrar que o orgulho de ser quem somos de verdade sempre pode superar o medo e a vergonha que ainda hoje sentem milhares de pessoas que não conseguem ou não podem assumir quem elas são. Há hoje no mundo 72 países onde ser LGBTQIA+ é crime e pode levar até a pena de morte.
Trabalhando numa organização como a TETO, todos os dias encaro de frente as diferenças que nos separam de forma abismal e sinto vergonha. Eu sinto vergonha de observar o quanto nós ainda somos uma sociedade voltada para o consumismo e individualismo. Eu sinto vergonha ao ver quantas famílias vão morar em condições extremamente precárias, em cima de lixões desativados, na beira de encostas e rios, porque as terras da união ou os latifúndios são intocáveis e não há uma política pública de moradia popular estruturada e acessível para todes.
Eu fico pra morrer de vergonha ao me deparar com tanto lixo ao cavar o solo para a construção de uma moradia de emergência em Jardim Gramacho – Duque da Caxias – Rio de Janeiro. Lixo esse que poderia/deveria ter sido reciclado. Eu morro de vergonha de saber que o país que mais mata transexuais no mundo é também o país que mais acessa pornografia envolvendo transexuais em sites de conteúdo pornográfico. Dá muita vergonha de saber que o país que possui os maiores aquíferos do mundo não oferece serviço de saneamento básico para metade da sua população. Eu sinto vergonha de ver que aceitamos isso e continuamos a vida normalmente, correndo atrás dos nossos sonhos de consumo individuais, sem olhar para os lados, sem nos indignarmos de fato e começarmos a atirar copos, garrafas, cadeiras contra aqueles que mantém essa estrutura excludente, classista, racista, transfóbica, patriarcal. Talvez porque precisaríamos atirar estes itens entre nós mesmos.
Mas hoje é dia do orgulho LGBTQIA+. Então permito-me sentir orgulho de quem sou, de quem amei e me amou. Escolho sentir orgulho da pessoa que estou me tornando e das escolhas que fiz e me fizeram chegar até aqui.
Uma delas é ser voluntárie da TETO desde 2015, onde aprendi muito sobre pertencimento e representatividade, onde aprendi muito sobre parceria e amizade. Uma organização formada por gente que constrói muito mais do que casa, constrói senso de comunidade.
Entre as comunidades LGBTQIA+, comunidades religiosas, comunidades acadêmicas, comunidades faveladas, comunidades étnicas, eu quero mesmo é me sentir pertencente e orgulho da comunidade humana.
Como diria Lulu Santos, ainda vai levar um tempo, mas como techeire que sou, eu tenho otimismo e convicção de que vamos chegar lá.
Autore Thalu Veras
Comunicadore Social, graduade pela PUC-Rio, voluntárie na sede do Rio de Janeiro e atualmente coordenadore nacional de parcerias corporativas da TETO Brasil.