O tema, que não costuma ter espaço entre as notícias da grande mídia, como levantamos em nossa última campanha, foi abordado na capa do jornal O Globo com a matéria “Pobreza extrema no Rio é a maior do Sul-Sudeste”. A reportagem deu início a uma série que busca retratar a situação em que vivem 3,77% da população fluminense, o que representa mais de 560 mil pessoas (IPEA).
Segue a lista de matérias relacionadas:
Um retrato sem retoque de um Rio de excluídos
Do flagelo do norte ao sul maravilha
Os cinco municípios com pior IDH
As favelas que crescem dentro das favelas
Neste contexto, também foi divulgada a série “A vida no lixo”, no G1, relatando o cotidiano das famílias que vivem em lixões no estado do Rio de Janeiro. A publicação aconteceu na mesma semana em que se completa o terceiro aniversário de fechamento do aterro sanitário do bairro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, onde o TETO atua há dois anos. Lá trabalhamos em conjunto com as famílias que continuaram no local e que viram sua qualidade de vida piorar, uma vez que sua renda vinha do lixo, como contextualizamos no artigo “Não fechou só o lixão”.
Trazer a extrema pobreza para a pauta incentiva a ação e o posicionamento das lideranças políticas. A série de reportagens no portal G1 trouxe a declaração do prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, que comentou os relatos de miséria, fome e descaso no cotidiano destas pessoas e pediu desculpas à população.
Como organização que atua ativamente lado a lado com os moradores, convidamos a prefeitura e o poder público a fazer mais do que pedir desculpas. Convidamos ao trabalho de escuta, articulação e co-construção de medidas concretas que possam melhorar a qualidade de vida da comunidade no curto, médio e longo prazo.
Comprometidos com o desenvolvimento comunitário e a incidência em políticas públicas, pedimos uma maior transparência por parte das prefeituras de Duque de Caxias e Rio de Janeiro (operadora do aterro e responsável pela sua desativação) sobre os recursos que deveriam ter sido destinados ao bairro, como o percentual de valores gerados pelos créditos de carbono da usina de Biogás de Jardim Gramacho. Segundo o diretor da COMLURB, na matéria do site advivo.com.br, esses recursos podem ultrapassar os 400 milhões de reais.
Ressaltamos a necessidade do comprometimento da prefeitura com os projetos apresentados aos moradores do bairro* durante reuniões realizadas pelo Fórum Comunitário do Jardim Gramacho, no qual estivemos presentes. Pudemos testemunhar propostas em três níveis: o primeiro relacionado à resolução de questões emergenciais, como lixeiras, asfaltamento das ruas, manutenção de pontos de iluminação, compra e manutenção de equipamentos para o posto de saúde; o segundo relacionado a um projeto de lei que obrigaria empresas da região a destinar seus resíduos recicláveis às cooperativas do bairro; e o terceiro relacionado a uma proposta de revitalização do bairro, que envolve a construção de novo posto de saúde, piscinão, parque esportivo, centro de reciclagem de resíduos, recuperação de áreas degradadas e construção de unidades habitacionais.
Entendemos como comprometimento a execução emergencial do primeiro nível de propostas, a fim de garantir o acesso a serviços e direitos básicos, até hoje negligenciados, assim como promover o trabalho e as fontes de renda à população da comunidade.
Quanto ao segundo e terceiro níveis, acreditamos que um debate maior deve ser articulado entre toda a comunidade e o poder público. Por ser um projeto de grande impacto no bairro, entendemos que as discussões têm que ter maior profundidade, envolvendo os moradores nas decisões que impactarão suas vidas e esclarecendo as dúvidas ainda não respondidas.
É assim que acreditamos que poderemos construir juntos não somente um Jardim Gramacho melhor, como uma sociedade mais justa.
TETO – Brasil
*entendemos como bairro de Jardim Gramacho toda a área urbanizada assim como a área mais carente, como a região do Quatro Rodas, Parque Planetário, entre outras