O I Fórum Nacional de Cidadania e Pobreza, organizado pela ONG Teto, foi realizado na Biblioteca Municipal Leonel de Moura Brizola e na Praça do Pacificador, no centro de Duque de Caxias, neste sábado, 24. No encontro, moradores de comunidades em que o Teto atua, voluntários e representantes de organizações como Anistia Internacional, Viva Favela e Casa Fluminense levaram questões que acontecem em comunidades em que atuam como pauta para toda cidade.
O Fórum ocorreu em lembrança ao Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, celebrado em 17 de outubro, e em referência a III Conferência Internacional da ONU Habitat. Arte, poesia e música fizeram parte das atividades para conscientizar sobre a pobreza no Brasil e questionar o direito à cidade.
Na primeira mesa de debates “”O que é direito à cidade?””, estiveram presentes Bernardo Serra, representante do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Vitor Mihessen, coordenador de informação da Casa Fluminense, e o arquiteto Lino Teixeira, do Observatório de Favelas. Os convidados debateram como a cidade deve ser aproveitada em sua integralidade, os projetos de mobilidade urbana no Rio de Janeiro e Região Metropolitana, e a participação social.
Lino Teixeira é arquiteto e participa do projeto Territórios Inventivos, do Observatório de Favelas, no Complexo da Maré. Segundo ele, a discussão sobre direito à cidade deve ter dois âmbitos: objetivo e subjetivo.
“”Devemos discutir questões de saneamento básico à infraestrutura, e questões subjetivas, de como o cidadão deve entender o pertencimento ao território, à cidade. Frisar a discussão de direito à cidade sem entender as especificidades não é possível. As apropriações simbólicas e objetivas caminham lado a lado. A cidade está em aberto para que possamos modificá-la.””
A segunda mesa do Fórum teve como tema “”O papel da cultura pelo direito à cidade””. O debate teve como participantes o rapper Dudu Morro Agudo, do Movimento Enraizados, a voluntária do Teto Fabiana Silva, criadora do Sarau de Poesia Apadrinhe um Sorriso, a professora da PUC-Rio Luciene Medeiros, coordenadora geral do Fórum dos Direitos da Mulher de Duque de Caxias, e a produtora cultural Giordana Moreira. A mesa discutiu o papel dos agentes culturais de cada território na produção de identidade e a ocupação dos ambientes culturais da cidade. Segundo Fabiana, as ações culturais só dão certo quando são fortalecidas pelos próprios moradores.
“”As ações dão certo quando há atores locais atuando para que o projeto cresça. As crianças são bons atores e possuem potencial, no caso do Sarau. Quando comecei a trabalhar a poesia, eles me diziam que não iriam conseguir. Hoje, não! Eles brigam pelo microfone. Eles já estão reconhecendo para si aquele território. O trabalho que fazemos vem sendo reconhecido. Estamos ocupando um território antigamente abandonado. O poder de transformação de um texto que uma criança produz é enorme.””
Luciene citou a frase da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher” para falar sobre o papel da mulher pobre e negra em um contexto de sociedade machista e excludente.
“” Nossa sociedade está marcada estruturalmente pela desigualdade social, de gênero. Principalmente quando as pessoas não possuem consciência de pertencimento da cidade. Precisamos trabalhar os equipamentos sociais. O papel da cultura pelo direito a cidade é o papel do direito à identidade – concluiu.””
A mesa “”Criminalização da pobreza e a luta pelo direito à cidade”” contou com representantes de diferentes organizações. Marcelle Decothe, da Anistia Internacional, Thainã de Medeiros, do Coletivo Papo Reto, e Guilherme Pimentel, do Meu Rio, falaram sobre a criminalização da pobreza e a luta pelo direito à cidade.
A discussão perpassou temas como a ocupação de espaços públicos, a relação do jovem negro, pobre e favelado no Rio de Janeiro, o engajamento na luta pelo reconhecimento de espaços públicos como locais de acesso e discussão, e o papel da comunicação nesses territórios. Segundo Guilherme Pimentel, quando a pessoa é negra e pobre há um duplo processo de criminalização.
“” Temos que lembrar que em 500 anos de Brasil, 400 foram de escravidão declarada. Esse processo de política criminal voltada, especialmente para os jovens de comunidades, expressa muito a nossa história e o que nós ainda não superamos.””
O evento contou ainda com show do Marcelo Peregrino, Sarau Apadrinhe um Sorriso, Sarau do Escritório e demonstração do Passinho.
Confira as fotos do evento na página do Facebook TETO Brasil.
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O I Fórum Nacional de Cidadania e Pobreza no Rio de Janeiro foi realizado no dia 24 de outubro de 2015. O evento foi palco de sarau, shows, mesas de debate e muita troca. Confira o que rolou!
Posted by Teto – Brasil on Friday, October 30, 2015