Por Édiglei Leandro
Diretores, coordenadores, líderes e voluntários de 4 estados do país estiveram presente no I Encontro Nacional de Voluntários do TETO – Brasil. Cerca de 200 pessoas participam do evento na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 05 e 07 de Setembro, que contou com a presença de membros das quatro sedes: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. Durante o encontro, todos puderam compartilhar experiências, realizar o alinhamento dos trabalhos e discutir os caminhos da organização nos próximos anos.
O primeiro dia começou com uma rápida apresentação do Diretor Nacional de Sedes, Fernando Haddad, dando as boas vindas aos voluntários. Logo em seguida, a voluntária de FeV e moradora da comunidade Parque das Missões (RJ), Fabiana Silva (vulgo Fabbi), falou da importância do fortalecimento do trabalho em conjunto com as crianças e mulheres da periferia.
“A maioria dos moradores são negros. E o fato de serem mulheres e negras faz com que a questão da exclusão esteja ainda mais presente. A mulher é líder do lar, mas também da comunidade. Ela é proativa, trabalha, cuida da casa e dos filhos. No início do meu trabalho na comunidade, eu ouvi muitos ‘nãos’ dos moradores, mas não aceitei e continuei insistindo na participação deles. Foi um trabalho duro que levou muito tempo. Eu sei que a melhor maneira de chegar à mãe é através dos filhos, já que as crianças ainda acreditam em algo e os adultos não têm muitas esperanças”, afirma.
Em entrevista para o TETO, Fabbi comenta sobre a participação da mulher dentro da comunidade e sobre o trabalho desenvolvido pelo TETO em conjunto com os moradores.
Escute: Fabbi, voluntária e moradora do Parque das Missões (RJ).
Hoje, Fabbi é responsável pelo projeto Sarau do Parque das Missões, que reúne entre 70 e 120 crianças, além da Roda de Conversa com Mulheres.
Em um segundo momento o Diretor Social, Júlio Lima, acompanhado do Diretor Fernando Haddad, apresentou um resumo da história do TETO no país. “O que queremos aqui é fazer um nivelamento de conhecimento entre todos os membros das sedes”, conta Julio. Foram destacados, ano a ano, trabalhos, números de construções, implementações das novas sedes, números de voluntários e as metas atingidas, como também as dificuldade de financiamento, de visibilidade e erros operacionais.
“Fica aqui uma curiosidade: o TETO fez um piloto em 2002, construindo 20 casas em Pernambuco, mas esse histórico se perdeu. Não temos informações de onde estão estas casas nem dos trabalhos que foram desenvolvidos. E foi apenas no final de 2006 que o TETO retomou com seus trabalhos no Brasil”, completa Júlio.
Chegando ao final do dia, houve a apresentação de cada uma das quatro sedes, onde o escritório do Rio de Janeiro destacou a importância do trabalho na comunidade Jardim Gramacho: “é impossível se referir a história do TETO no Riosem falar desta comunidade. Era uma época [2013] de muitas reinvindicações de direitos e a chegada do TETO significou um pouco disso”, disse a diretora Danyelle Fioravanti.
Já o escritório Bahia, por intermédio das Diretoras Gabriela Tiemy Yamaoka e Bianca Fernandes, buscou falar da violência e do ativismo voluntário de ir a campo. “É importante falar da violência e do desafio que encaramos nas comunidades. Assim como São Paulo, pegamos um carro e fomos ouvir quem ainda sofre com o racismo e com a segregação social. Lá na Bahia, o TETO foi visto como uma oportunidade de causar um envolvimento social entre as comunidades e o público universitário”, conta Gabriela
Segundo a Diretora Aline Tavares do TETO no Paraná as dificuldades estão um pouco ligadas à falta de um escritório e da falta de parcerias com empresas. Mas o trabalho é continuo e vem impactando na vida de um número cada vez maior de famílias e voluntários. “O TETO surge no Paraná de uma forma diferente das demais sedes. Começamos a fazer caravanas para participar de quase todas as atividades em São Paulo. Em 2013, começamos a questionar e a cobrar a abertura de uma sede no nosso estado. Começamos a nos organizar e a deixar de ser uma informalidad. Fizemos um planejamento para o ano seguinte e, assim como em outras sedes, apesar de lidar com a descrença e distância dos moradores, seguimos”, conta Aline.
Em seguida, foi a vez do Diretor Regional do Cone Sul & Brasil, Manuel Costa, subir ao palco e contar sobre o trabalho desenvolvido pelo Escritório Central, no Chile, e sua relação com o Brasil. A última atividade do primeiro dia de Encontro aconteceu logo após o jantar. Os voluntários se reuniram para participar do debate “O Futuro que Queremos: Os desafios das comunidades brasileiras”, que contou com a participação dos palestrantes: Dep. Marcelo Freixo da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, Patrícia Tomalsquim da Secretaria de Direitos Humanos do RJ, Jorge Luiz Barbosa do Observatório de Favelas e o Professor Dr. Bruno Oliveira de Serviços Sociais da Unirio.
Em depoimento para o TETO, Patrícia Tomalsquim comenta sobre a importância do trabalho desenvolvido em conjunto com as comunidades.
Escute: Patrícia Tomalsquim, da Secretaria de Direitos Humanos do RJ.
No segundo dia, tivemos uma apresentação sobre o andamento financeiro da organização com a Diretora Executiva Carolina Mattar. Entre os principais assuntos estavam a captação de recursos, a diversidade nas fontes de captação e o programa “AMIGOS do TETO”, que “deve ser trabalhado para tornar nosso método de financiamento mais sustentável”. Houve espaço para falar das contas da organização, como relatório de investimentos, redução de gastos e novas plataformas de arrecadações.
As dinâmicas em grupos marcaram o ENV 2015. Em certo momento, os voluntários foram levados a pensar nas suas contribuições para com o TETO, em seguida, foram divididos em grupos diversos e depois nas áreas em que trabalham no TETO.
Também no segundo dia (06), acontecerem Rodas de Conversas entre os voluntários por temas sugeridos por eles mesmos, além de conversas abertas com os diretores. No final da noite, tivemos a segunda rodada do debate, “O Futuro que Queremos: Propostas Para a Superação da Pobreza nas Comunidades Brasileiras”, mediada pela voluntária Fabbi e com os participantes Marcelo Zacchi, Diretor Executivo da Casa Fluminense, Marília Ortiz, Secretária de Planejamento de Niterói, Nina Scheliga, Diretora de Programas e Projetos do Teto – Brasil e o Professor Dr. Leandro Vieira de Sociologia e Filosofia da Rede Pública e Privada do RJ.
O terceiro e último dia (07) na cidade maravilhosa foi repleto de atividades. A primeira atividade foi à discussão: “O que o TETO aporta hoje para uma sociedade melhor? E o que o TETO poderia aportar?” Em seguida, aconteceu a apresentação do Planejamento Estratégico e dos Cinco Focos Nacionais para 2016. Mas o dia prometia, o Passinho, movimento de dança característica das comunidades cariocas, contagiou os voluntários em uma aula promovida pelo dançarino Amaury Soares.
O ENV acabou ao som de ritmistas cariocas tocando diversas músicas para se despedir dos voluntários, abraços entre os membros das sedes e um jantar com comidas típicas de cada região do Brasil. Foi com novas metas, planejamentos e experiências trocadas que o TETO – Brasil se prepara para uma nova fase com mais alinhamento para que possamos, cada vez mais, trabalhar juntos por uma sociedade mais justa e sem pobreza.