A pesquisa realça a diferença entre as favelas consolidadas e favelas hiper vulnerabilizadas, um conceito ainda distante do imaginário coletivo e que reflete a invisibilidade social e o nível de abandono do poder público em relação às famílias que sobrevivem em situação de hipervulnerabilidade maior do que a imaginada.
A TETO Brasil, em parceria com o Insper e a Diagonal, divulga hoje o Panorama das Favelas e Comunidades Invisibilizadas no Estado de São Paulo. O estudo, realizado a partir de dados primários coletados pelo voluntariado da TETO em nove comunidades do estado de São Paulo entre 2019 e 2023, traça um retrato da precariedade destas localidades e da desigualdade perpetrada pela inexistência de políticas públicas adequadas para suas populações. O documento será disponibilizado por meio do site das instituições e visa denunciar as violações de direitos e embasar a formatação de serviços ou políticas públicas de assistência às regiões mapeadas. Você pode acessá-lo aqui. https://conteudo.teto.org.br/panoramadasfavelas
A organização, que atua desde 2006 mobilizando jovens pela superação da pobreza por meio da construção de casas emergenciais e projetos de infraestrutura nas favelas mais invisibilizadas do país, aplica nas comunidades um questionário que permite compilar e analisar os dados e planejar as ações junto com os territórios. O nível de desamparo do poder público é similar em cada uma dessas localidades e reforça os padrões de desigualdades da sociedade brasileira. Por exemplo, dados como o número de moradias construídas com materiais não duráveis – madeira e sucata – chega a 43%; em 20% das moradias o piso é de terra ou madeira; e 69% dessas casas enfrentam problemas como frio ou calor excessivo, entrada de insetos e roedores ou infiltração de umidade ou água, que trazem diversos riscos à saúde. Além disso, o acesso às redes formais de saneamento e eletricidade alcança apenas 30% dos moradores destes territórios. Essas informações indicam que o estado não garante os direitos básicos aos cidadãos das favelas mais invisibilizadas.
Para Camila Jordan, diretora executiva da TETO Brasil “”Há favelas e favelas. O imaginário coletivo sobre pobreza e vulnerabilidade do país ainda precisa equacionar as profundezas do problema, para escancarar as mais dramáticas situações e iluminar potências. Nesse sentido, o esforço para a construção deste Panorama surge da indignação da organização TETO e da pesquisa com as condições das favelas e comunidades mais empobrecidas e vulnerabilizadas do Brasil”, explica. As políticas públicas voltadas para estes territórios são insuficientes ou ineficazes. “Faltam dados, conhecimento territorial e ações coordenadas com precisão. As soluções emergenciais, que surgem apenas após grandes tragédias, não resolvem o problema no longo prazo. Para enfrentar essa realidade de forma efetiva, são essenciais investimentos massivos em políticas públicas participativas pautadas em dados concretos, que reflitam as necessidades reais das populações das favelas mais invisibilizadas”, conclui Jordan.
O Insper cooperou com a análise e a revisão metodológica do estudo. Para Tomas Alvim, coordenador-geral do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper, “levantamentos desse tipo são essenciais para identificar as particularidades de diferentes territórios e aplicar o conhecimento acadêmico para pautar ações de políticas públicas urbanas que tragam verdadeiro impacto para a população. Pensar no ambiente urbano como um local de desafios complexos, que exige práticas inovadoras de análise e gestão de recursos, é essencial para trazer melhorias para a sociedade”.
Para Kátia Mello, copresidente da Diagonal “É necessário (re)conhecermos muito profundamente a dramática e dolorosa realidade das famílias que sobrevivem nas favelas e comunidades mais empobrecidas e vulnerabilizadas desse país, onde os recortes sociais são evidentes: população predominantemente jovem, negra e com baixa escolaridade. A partir do momento que as (re)conhecermos, poderemos transformá-las em lugares melhores, seguros e mais dignos de se viver, por meio de políticas públicas e iniciativas privadas eficientes e eficazes”. Assim “Iniciativas como esta da TETO, em parceria estratégica com o INSPER e a Diagonal são essenciais para que sejam conhecidas e reconhecidas as formas de vida e as necessidades de comunidades tão invisibilizadas, dentre as quais este trabalho registra e coloca luzes em nove delas – com primor!
Com este estudo é possível destacar a necessidade urgente de “pisar na lama” para conhecer, entender e poder propor soluções para os inúmeros desafios enfrentados pelas populações que residem nestas comunidades.
Sobre a TETO
A TETO Brasil atua desde 2006 mobilizando jovens pela superação da pobreza por meio da construção de casas emergenciais e projetos de infraestrutura nas favelas mais invisibilizadas do país. Promovemos encontros improváveis para, juntas e juntos, expandir o acesso ao que é básico e urgente: moradia, saneamento e saúde. Mais do que isso, promovemos a cada ação o desenvolvimento de cidadãs e cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres.
Quem constrói uma casa, horta, banheiro ou sede comunitária com a TETO, aprende o poder do coletivo e sai dessa experiência com mais força para sonhar e realizar.
Em sua história, a TETO Brasil já mobilizou mais de 90 mil pessoas voluntárias, impactou mais de 4.900 famílias com moradias de emergência e construiu mais de 320 projetos de impacto comunitário.
Sobre o Insper
O Insper é uma instituição independente e sem fins lucrativos, que busca ser referência em educação e geração de conhecimento por meio do ensino de excelência e pesquisa nas áreas de Administração, Economia, Direito, Engenharia, Políticas Públicas, Tecnologia e Comunicação. No portfólio, cursos para várias etapas de uma trajetória profissional: graduação (Administração, Direito, Economia, Engenharia e Ciência da Computação), pós-graduação lato e stricto sensu (Certificates, MBAs, programas da área de Direito, Mestrados Profissionais) e Educação Executiva (programas de curta e média duração, e customizados de acordo com as necessidades das empresas). No âmbito da produção de conhecimento, o Insper atua por meio de cátedras e centros de pesquisa que reúnem pesquisadores em estudos e projetos dirigidos a políticas públicas, agronegócio, educação, inovação, finanças e gestão. A escola tem as certificações de qualidade da Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB), Association of MBAs (AMBA) e EQUIS (EFMD Quality Improvement System).
Acompanhe as páginas do Insper nas redes sociais para atualizações sobre nossa programação – Facebook | Instagram | Twitter | LinkedIn | YouTube
Sobre o Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper
O Arq.Futuro nasceu há dezesseis anos, dentro da BEĨ Editora, com a proposta de pensar e debater questões relacionadas às cidades brasileiras no horizonte dos próximos anos e décadas – e, claro, publicar material sobre o assunto –, convidando especialistas nacionais e internacionais para apresentar as inovações urbanísticas, o desenho arquitetônico e as estruturas de governança que produzem transformações efetivas na melhoria da qualidade de vida nas urbes. Em 2019, uma parceria entre o Arq.Futuro e o Insper deu origem ao Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper (desde maio de 2024, Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper), que trabalha com uma abordagem interdisciplinar e transversal para pesquisa, ensino e inovação no âmbito dos municípios. O então chamado Núcleo de Urbanismo Social, um dos primeiros a serem criados no Laboratório, estabeleceu em 2020 uma parceria com o Itaú Cultural para realização de uma pós-graduação em Urbanismo Social, pioneira e inclusiva, capaz de produzir um espaço acadêmico e ferramental de concertação entre os diversos atores que constroem as cidades, nas suas múltiplas perspectivas e experiências – poder público, iniciativa privada, sociedade civil e organizações comunitárias –, seja no corpo docente, seja no discente. Essa proposição teórica está amparada na metodologia pedagógica e na missão do Insper de produzir impacto real na sociedade.
Na trajetória das reflexões e iniciativas do Núcleo de Urbanismo Social, o tema segurança pública cidadã ganhou relevância. Entende-se, hoje, que existe uma intersecção indispensável entre Urbanismo Social e segurança pública cidadã stricto sensu e que é fundamental a integração dessas políticas nas estratégias e intervenções territoriais. Foi tal compreensão que se promoveu, em 2023, a mudança de denominação e a ampliação do foco do referido núcleo, hoje denominado Urbanismo Social e Segurança Pública.
Sobre a Diagonal
A Diagonal, empresa de consultoria pioneira em gestão social, tem como princípios a atuação integrada, participativa, territorializada e focalizada, colocando as pessoas como centro das transformações dos territórios desde sua fundação, em 1990. Com o propósito de transformar vidas por meio da mudança social e do desenvolvimento sustentável dos territórios, a Diagonal apoia governos, organizações do terceiro setor, agências internacionais de fomento e empresas privadas na geração de impacto socioambiental positivo nas comunidades em que atuam. Experiências importantes, cujas práticas já trazem elementos estruturantes do conceito de Urbanismo Social, marcaram a trajetória da Diagonal, tais como: os Projetos de Tamarutaca (1992) e de Sacadura Cabral (1998), em Santo André-SP; o Programa Decidindo Curitiba – PR (1999); Programa BID – Ciudad Juárez, no México (2000-2002); o Programa Braços Abertos, em Boa Vista-RR (2001-2004); Avaliação do Programa Favela-Bairro com o BID (1996-1997); e Urbanização Integrada de Ilha de Deus, no Recife-PE (2007-2014). Além desses, vale destacar a atuação da empresa em diversos projetos de habitação de interesse social, urbanização de favelas, regularização fundiária, saneamento integrado, reassentamento involuntário, trabalho técnico social, educação ambiental e gestão de impactos socioeconômicos, entre outros. Em seus 34 anos, a Diagonal atendeu mais de 5 milhões de pessoas, em 22 países, 24 estados e mais de mil municípios brasileiros, por meio de mais de 1.300 projetos.