*Por Aline Khouri
O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ marca a luta da comunidade por igualdade e respeito em todo o mundo e inspira reflexões sobre conquistas e desafios em todos os espaços, inclusive dentro do terceiro setor. A defesa da diversidade é um dos principais valores da TETO: 39% do voluntariado e 27% da equipe contratada pela organização são LGBTQIAPN+.
Um exemplo disso é Lee Frey, pessoa não-binária de gênero neutro que descobriu a TETO através de sua esposa. Hoje, Lee é coordenadore de comunicação da organização: “Fiquei super animade com a chance de ajudar pessoas a saírem da pobreza e construírem um novo futuro. Eu me sinto realizade em fazer parte de uma ONG que sempre me faz refletir sobre como a vida pode melhorar e que chama a atenção constantemente para as favelas e centenas de famílias que vivem em extrema vulnerabilidade e pobreza”, conta.
Lee ressalta que o Brasil ainda é um lugar muito difícil para a comunidade LGBTQIAPN+, especialmente para pessoas trans, destacando que um dos seus principais objetivos é ajudar quem vive nas favelas a também lidar com esse obstáculo.
“Quando falamos de pessoas trans nessas comunidades, a violência é ainda maior. Alguns meses atrás, participei da construção de banheiros em uma comunidade com muitas pessoas trans e isso me tocou profundamente. Sei as dificuldades diárias que essas pessoas enfrentam e a força que precisam ter, além de se perguntarem se terão um lar na próxima noite”, afirma.
“Ainda temos um longo caminho pela frente. Por isso, fazer parte de uma ONG que se preocupa e age para que pessoas como eu se sintam ouvidas e incluídas é extremamente gratificante”, complementa.
Abordagem estrutural para aumentar a diversidade inclui espaços educacionais e ouvidoria
Raffaella Souza é pansexual e Gerente de Pessoas da TETO. Ela explica que a organização realiza ações estruturais para abordar o tema: “Olhamos isso a nível de inclusão, processos e conhecimento. Não só olhamos para a quantidade de pessoas que temos dentro de cada recorte, mas também para algo muito importante: como educamos todo mundo para criar um espaço seguro para todas essas pessoas”.
A TETO possui um código de ética e de conduta que preza pelo cumprimento de princípios como a diversidade. Há também espaços educacionais para que a equipe da organização converse sobre o tema com especialistas nas temáticas de diversidade e inclusão.
“Estamos implementando um novo modelo de voluntariado, que é o Plano V e, junto com ele, vem a busca por novas juventudes. Buscamos utilizar uma linguagem cada vez mais neutra e inclusiva que também consiga abarcar isso”, acrescenta Raffaella.
Outras medidas são processos de denúncia e uma ouvidoria interna, acionados caso alguma minoria se sinta prejudicada de alguma maneira. “Temos um nível de tolerância zero para qualquer atitude de homofobia, transfobia e desrespeito a minorias”, observa.
De olho no futuro: ações e grupos afirmativos devem fazer parte da estratégia de diversidade e inclusão
No próximo mês, a TETO irá disponibilizar uma jornada educativa sobre todas as minorias. Trata-se de uma curadoria de materiais que abordam vieses inconscientes e recortes sociais para assegurar que cada vez mais pessoas estejam capacitadas sobre o assunto.
Raffaella também deseja colocar em prática ações afirmativas a curto prazo e formar grupos afirmativos para fortalecer a rede de apoio e segurança de pessoas LGBTIAPN+. “A partir do momento em que queremos construir uma sociedade justa e sem pobreza, precisamos olhar para nossos recortes e entender que nem todo mundo vem do mesmo degrau. É um papel essencial de todos os lugares conseguir ter degraus ali para a minoria conseguir subir e se equiparar e termos espaços mais equitativos. Essa é a grande diferença entre igualdade e equidade”, ressalta.
“Os benefícios de ter uma equipe diversa são imensos: há muito mais ideias e conseguimos pensar em soluções muito mais práticas, fáceis e ricas. Acredito que para conseguirmos ter organizações mais diversas e inclusivas, precisamos ter esse olhar em todos os processos, um olhar 360, que venha desde o processo seletivo, com metas de diversidade e processos afirmativos, ações de retenção de talentos diversos e conseguir fazer com que eles cresçam”, finaliza.
*editora do blog da TETO Brasil