A condição de desigualdade que muitos brasileiros vivem todos os dias nas relações de trabalho, transportes, saúde, educação e moradia, torna-se ainda mais evidente quando há pouca distância entre os dois extremos dessa realidade.
No município de Carapicuíba, na Zona Oeste de São Paulo, fica a comunidade Porto de Areia. Uma linha da CPTM passa atrás do local que é cercado por shopping, grandes escolas, prédios e áreas urbanizadas.
O grande contraste fica cada vez mais evidente ao entrar na comunidade, que apesar de não ser tão grande, tem muitas famílias, comércios e casas. Um dos moradores mais conhecidos e queridos da Porto é Rui Roberto Fernandes, 40, morador da Porto há 4 anos. Ele, a esposa e os três filhos já passaram por situações extremas e hoje ele agradece a oportunidade de poder morar na Porto de Areia e ter sua casa.
A história do Rui é cheia de aprendizados e muita luta para sempre proporcionar segurança e tranquilidade para os filhos. Ele e a família já moraram em albergue e também embaixo de uma ponte próxima da estação Barra Funda do metrô. Nessa época, a higiene era feita dentro do banheiro da estação, onde Rui pagava para, junto da família, conseguir tomar banho. Rui conta que ele varria os restaurantes da região enquanto sua esposa Renata lavava louça. “Varrendo e lavando as louças dos restaurantes, nós ganhávamos marmitas e café da manhã”, conta Rui. Quando não tinha isso nos restaurantes, ele cuidava dos carros ou arrumava bico no lava rápido para conseguir dinheiro e comprar leite para as crianças.
Foi nessa época que uma moradora da Porto de Areia passou pelo local, tirou uma foto e perguntou se poderia mostrar para a líder da comunidade e tentar conseguir um lugar para ele e a família. A líder concordou em levar todos para lá e conseguiu um terreno para o Rui. “Conseguiram um espaço para a gente. Eu comecei a construir, procurava madeira pela comunidade, prego usado que eu achava na rua ou pregos enferrujados que não usavam mais.”
Em novembro de 2016, Rui participou da Construção de Moradias do TETO que aconteceu na Porto. Ele conta que agora os filhos estão em um espaço com mais comodidade, sem a exposição à chuva e ou frio. “A casa que eu morava antes tinha a porta amarrada com um arame, era perigoso até o barraco desmontar” lembra Rui. Ele conta que agora consegue dormir sossegado e sair sem se preocupar, pois a casa tem uma boa segurança. Na foto ele mostra uma de suas grandes paixões, filmes do Mazzaropi, dos quais já possui uma grande coleção que assiste com os filhos. Rui agradece imensamente toda a equipe de voluntários e até o morador Bahia, da comunidade Olaria, que ajudou muito na construção de sua casa.