*Por Itamar Batista

O Dia das Crianças é um convite para revisitar o território de descobertas e imaginação da infância, onde o mundo cabe nos brinquedos mais simples e a maior proteção pode ser uma pequena cabana feita com lençol. Porém, na vida real, é necessário mais do que isso para garantir uma infância saudável e vivida plenamente.
Para a TETO, é o momento de refletir sobre o que toda criança precisa para crescer com dignidade: uma moradia segura e estável, capaz de abrigar não só corpos, mas também sonhos. Sem um lar digno, a brincadeira é interrompida pela chuva que provoca alagamentos, o sono cede diante do medo e o futuro parece sempre distante. Garantir o direito à moradia é assegurar o direito de ser criança e reafirmar que toda infância merece crescer cercada de cuidado e não de fragilidade.
O relatório Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), publicado em 2023, aponta que cerca de 4,6% da população infantil brasileira vivia com mais de quatro pessoas em um dormitório ou casa construídos com material inadequado (como madeira improvisada).

A realidade exposta pelo relatório revela muito mais do que números. Em cada uma dessas moradias improvisadas, há o cotidiano de famílias que enfrentam goteiras, calor excessivo, mofo e a constante ameaça de perder seus bens e móveis para os fenômenos da natureza. Viver em moradias precárias afeta diretamente o desenvolvimento emocional e físico das crianças, comprometendo sua saúde e suas oportunidades de aprendizado. É um retrato da desigualdade habitacional no país que exige ação urgente e conjunta para ser modificada.
A moradia digna é reconhecida pela Constituição Federal (art. 6º) como parte fundamental do direito à vida e ao desenvolvimento pleno. Sem um lar seguro, os outros direitos como saúde, educação, lazer e proteção tornam-se frágeis. A casa é onde a criança se alimenta, dorme, brinca, sonha e se sente protegida do mundo.
Por isso, a falta de moradia adequada não é apenas um problema social. É uma violação de direitos fundamentais. E é também o espelho de um país que ainda não aprendeu a priorizar o cuidado de crianças. Garantir um teto digno é plantar as bases de um futuro mais justo, no qual a infância não seja marcada pela escassez, mas pela possibilidade. É transformar a casa em abrigo, e o abrigo em esperança.
Quem são essas crianças?
A pesquisa As Múltiplas Dimensões da Pobreza (UNICEF) mostra que mais de 32 milhões de crianças e adolescentes vivem em situação de pobreza no país, com dificuldades de acesso a direitos básicos como moradia, alimentação e saneamento.
Esse número mostra uma ferida antiga, que atravessa gerações e reflete o abismo das desigualdades estruturais brasileiras. Neste Dia das Crianças, é urgente lembrar que milhões ainda crescem sem acesso a um lar digno.
Segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 160 mil pessoas vivem sem moradia adequada. Essas condições dificultam o brincar do universo infantil. O espaço da imaginação cede lugar à preocupação cotidiana, e o direito à infância acaba comprometido pela falta de segurança e conforto. Brincar em um chão de terra batida, dormir sob goteiras ou estudar em meio ao barulho e à instabilidade são experiências que deixam marcas profundas.

Precariedade das condições de moradia prejudica o desenvolvimento infantil
A ausência de uma casa adequada limita o desenvolvimento físico, emocional e social. Isso foi revelado pelo estudo “Relations Between Housing Characteristics and the Well-Being of Low-Income Children and Adolescents” (Relações entre as características da moradia e o bem-estar de crianças e adolescentes de baixa renda, em tradução livre), da Boston College e da Tufts University, nos Estados Unidos.
Segundo a pesquisa, as crianças que viviam em moradias precárias apresentavam até 20% mais problemas emocionais e um desempenho cognitivo 15% menor em relação a outras, da mesma idade, que residiam em moradias diferentes.
Celebrar o Dia das Crianças é também reconhecer que muitas infâncias ainda precisam ser protegidas. O direito de brincar, aprender e sonhar começa com algo essencial: o direito de morar. Proporcionar um lar adequado é o primeiro passo para que toda criança possa crescer com segurança, saúde e esperança.
Faça parte da mudança
Você também pode fazer parte dessa transformação. Faça parte do voluntariado e ajude a garantir que mais crianças tenham um lar onde possam brincar, crescer e sonhar sem ter medo da chuva. Neste Dia das Crianças, transforme o seu afeto em ação e colabore para a construção de futuros mais justos!
*redator do blog da TETO Brasil