A desigualdade de gênero no Brasil vai além das disparidades salariais e da sub-representação política, ela também impacta o acesso a direitos fundamentais, como a moradia digna. As mulheres representam 59,1% do déficit habitacional brasileiro, segundo a Fundação João Pinheiro, o que é um reflexo claro das desigualdades estruturais que permeiam a sociedade.
No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, ressaltamos este dado alarmante e que reflete uma realidade global. De acordo com o Global Gender Gap Report 2022, a desigualdade de gênero sofreu uma queda de apenas 68,1% até o momento e é necessário um esforço de 132 anos para alcançar a equidade.
A seguir, vamos explorar os desafios enfrentados por mulheres no acesso à moradia e apresentar iniciativas que buscam transformar essa realidade.
O cenário da desigualdade de gênero e da moradia no Brasil
A desigualdade de gênero no Brasil é um reflexo de problemas estruturais mais amplos. Embora 50,8% dos domicílios sejam chefiados por mulheres, segundo o IBGE, essas famílias enfrentam maior vulnerabilidade econômica e social. A renda média de famílias lideradas por mulheres negras, por exemplo, é de apenas R$ 2.362, enquanto a de famílias chefiadas por homens brancos é mais do que o dobro: R$ 4.860. Essas disparidades econômicas limitam o acesso a condições habitacionais adequadas e perpetuam ciclos de pobreza.
No mercado de trabalho, as mulheres enfrentam dificuldades adicionais: o Global Gender Gap Report 2022 destaca que apenas 62,9% das mulheres participam do mercado de trabalho globalmente, o menor índice desde o início da análise. No Brasil, essa participação reduzida, somada à disparidade salarial, contribui para que muitas mulheres vivam em condições habitacionais precárias, com destaque para o ônus excessivo com aluguel e a coabitação involuntária.
Como a desigualdade de gênero impacta o acesso à moradia
As dificuldades no acesso à moradia afetam diretamente a qualidade de vida das mulheres e suas famílias. Entre os principais impactos, destacam-se:
1. Dignidade comprometida
Moradias precárias reduzem a segurança e a autoestima das mulheres. O comprometimento de condições básicas de habitação também perpetua barreiras à sua inclusão social e econômica.
2. Sobreposição de vulnerabilidades
As mulheres enfrentam múltiplas camadas de vulnerabilidade, especialmente aquelas que são mães solo. Com maior carga de trabalho não remunerado, elas possuem menos tempo e recursos para buscar alternativas habitacionais.
3. Ciclo de pobreza intergeracional
Sem acesso à moradia digna, mulheres e suas famílias permanecem presas a um ciclo de pobreza, perpetuando desigualdades de geração em geração. O relatório aponta que em países como o Brasil, onde políticas públicas voltadas para mulheres ainda são insuficientes, esse problema é ainda mais acentuado.
4. Riscos ampliados em crises climáticas
Comunidades vulneráveis lideradas por mulheres estão mais expostas aos impactos de desastres climáticos, como enchentes e deslizamentos de terra. A ausência de infraestrutura básica nessas áreas aumenta os riscos para mulheres e crianças.
Iniciativas que buscam a mudança: o exemplo da TETO Brasil
Diante desse cenário alarmante, organizações como a TETO Brasil desempenham um papel fundamental na luta contra a desigualdade habitacional. Desde 2006, a TETO já beneficiou mais de 5000 famílias em mais de 250 comunidades vulneráveis.
As principais ações da TETO incluem:
1. Construção de moradias emergenciais
Por meio do trabalho voluntário, a TETO oferece soluções rápidas e seguras para famílias em situações críticas. Essas moradias são projetadas para garantir estabilidade e dignidade a curto prazo.
2. Mapeamento de direitos
O Mapa de Direitos, desenvolvido pela TETO, reúne dados sobre violações de direitos em comunidades precárias, servindo como uma ferramenta para pressionar políticas públicas e mobilizar recursos.
3. Fortalecimento comunitário
A TETO envolve moradores no planejamento e na execução dos projetos, promovendo o protagonismo e a autonomia das comunidades atendidas.
4. Advocacy e parcerias
A organização trabalha para ampliar a visibilidade da questão habitacional e fomentar colaborações entre setores público e privado, com foco em soluções a longo prazo.
Soluções e caminhos para reduzir a desigualdade de gênero na habitação
Superar a desigualdade de gênero no acesso à moradia exige um esforço conjunto entre governos, sociedade civil e setor privado. Algumas estratégias essenciais incluem:
- Políticas públicas inclusivas: priorizar famílias chefiadas por mulheres em programas habitacionais pode reduzir significativamente o déficit habitacional.
- Equidade no mercado de trabalho: combater a disparidade salarial e garantir oportunidades iguais para mulheres é crucial para ampliar seu acesso a condições de moradia adequadas.
- Apoio financeiro e jurídico: facilitar o acesso a crédito habitacional e oferecer assistência jurídica para mulheres em situações de vulnerabilidade pode gerar mudanças significativas.
- Melhorias em infraestrutura urbana: investir em saneamento básico, transporte público e acesso a serviços essenciais é fundamental para melhorar as condições de vida nas periferias.
Construindo um futuro igualitário: moradia digna como base para a transformação social
A desigualdade de gênero no acesso à moradia é um reflexo de problemas estruturais mais amplos, que incluem discriminação econômica, social e política. No entanto, iniciativas como as da TETO Brasil mostram que é possível transformar realidades por meio de esforços coletivos e ações concretas.
Garantir moradia digna para mulheres em situação de vulnerabilidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também representa um passo essencial para o desenvolvimento sustentável do país. Com políticas públicas efetivas e apoio da sociedade, podemos construir um futuro mais justo e inclusivo.
Apoie a TETO e ajude a transformar vidas. Sua doação pode ser o primeiro passo para garantir um lar digno para quem mais precisa.