*Por Melina Cattoni
A TETO Brasil esteve presente na COP30, evento que reuniu vozes de todo o mundo para debater o futuro do clima. Não apenas para participar dos painéis ou ocupar espaços institucionais, mas para lembrar que, enquanto o mundo projeta soluções para o amanhã, a crise climática marca o cotidiano de quem vive em condições precárias.
Dados do Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas, publicado pela TETO neste ano, revelam que 58% das comunidades mapeadas perderam moradias em decorrência de eventos climáticos extremos. Em 39% dos territórios, o acesso foi interrompido, isolando pessoas, serviços e urgências. E em 48%, o desabastecimento de alimentos e itens básicos agravou o quadro de vulnerabilidade local.
Esses indicadores evidenciam que a questão da moradia está na linha de frente da crise ambiental no país. São estruturas frágeis, famílias desprotegidas, crianças com medo e adultos tentando, todos os dias, segurar o que ainda não desmoronou. Se a estrutura física já era precária, o colapso climático também provoca danos emocionais.
Segundo o estudo Panorama de Saúde Mental (2025), realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, quase 42% da população brasileira acredita que as mudanças climáticas têm ou já tiveram impacto em sua saúde mental. Ansiedade, medo e tristeza constante foram registrados em mais da metade da população. A instabilidade habitacional, agravada por desastres recorrentes, tem comprometido a saúde mental de milhares de pessoas.
Re.Habita e a articulação por justiça habitacional e climática
Foi nesse contexto que a TETO Brasil, em conjunto com a WRI Brasil, ONU-Habitat, Habitat para a Humanidade Brasil e Fundação Tide Setúbal, lançou durante a COP30 a iniciativa Re.Habita, um esforço coletivo para conectar duas agendas que não podem mais caminhar separadas: habitação e clima. As organizações assinaram a Carta Aberta pela Moradia Digna na Agenda Climática, defendendo que o direito à moradia é uma estratégia de adaptação climática crucial.
Hoje, mais de 16 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa população cresceu cerca de 40% em quase uma década, ocupando majoritariamente áreas sem planejamento urbano e suscetíveis a desastres. Entre 2012 e 2023, ao menos cinco milhões de pessoas foram diretamente afetadas por eventos climáticos no país, segundo dados da Defesa Civil. A cada temporal, aumenta o número de famílias desabrigadas e vidas interrompidas.
Soluções da TETO são aplicadas em contextos latino-americanos
Nesse cenário, falar em moradia resiliente é cada vez mais necessário. O modelo parte de três pilares: adaptação climática, com soluções passivas de conforto térmico e materiais adequados a contextos de emergência habitacional; engajamento comunitário, com participação direta das famílias na escolha e implementação dos projetos; e tecnologia social acessível, que permite escala, replicação e integração com políticas públicas.
Durante a conferência, a diretora de Relações Institucionais e Incidência da TETO Brasil, Camila Jordan, também participou do painel “Gestão de Desastres Naturais: Cases Internacionais”, realizado em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Ela trouxe mais exemplos da América Latina, onde a organização e a TECHO atuam há décadas com habitação emergencial, sempre em articulação direta com as comunidades.
Sem moradia digna, não há justiça climática
O futuro das cidades será definido por sua capacidade de enfrentar desigualdades. Nenhuma será verdadeiramente sustentável enquanto parte da população viver sob o risco permanente de perder tudo com a próxima chuva. A TETO retorna de Belém (PA) com novas parcerias, escutas, compromissos e com mais clareza de que a resposta climática começa por uma casa segura, digna e resiliente.
Como parte desse compromisso, mantemos o Mapa de Direitos, nossa plataforma de dados aberta que reúne evidências sobre a violação de direitos em favelas e comunidades invisibilizadas. Ao torná-los públicos, buscamos incentivar políticas públicas que respondam à urgência de garantir condições dignas de vida nos territórios mais vulneráveis do país. Explore a plataforma no site da TETO Brasil!
*Redatora do blog da TETO Brasil


