O Dia mundial da erradicação da pobreza (17) é uma data comemorativa que nos convida a refletir sobre a realidade de milhões de pessoas em situação de pobreza pelo mundo, bem como buscar respostas efetivas para trabalhar o tema. Neste ano a data recebe uma conotação especial pelo momento que estamos passando no nosso país. Não só enfrentamos uma polarização política prévia a mudanças de governo, como também enfrentamos uma crise político-econômica.
Apesar dos avanços nos índices de pobreza desde 2003, voltamos a verificar um retrocesso nos últimos anos. Segundo pesquisa da FGV, desde 2014 já somam 6.3 milhões de pessoas que entraram para a pobreza, totalizando 23.3 milhões de pessoas nesta situação. Além disso, houve um crescimento da extrema pobreza, faixa mais vulnerável dentre os pobres, que aumentou 11% de 2016 a 2017. Esse aumento está diretamente ligado à crise e às taxas de desemprego evidente nestes anos de instabilidade.
Com isso, seguimos num cenário alarmante que chama por atenção urgente. Estamos falando de uma população de 11 milhões de pessoas, quase o estado do Rio Grande do Sul inteiro, vivendo em favelas, a principal forma de materialização da pobreza em suas diversas formas. Milhões de pessoas vivendo em situações de vulnerabilidade habitacional, com esgoto a céu aberto, sem soluções de infraestrutura e acesso restrito a água limpa e outros serviços. São lugares construídos no pouco espaço que ainda resta desocupado nas nossas regiões metropolitanas, fruto da impossibilidade de pagar aluguel e a falta de acesso à propriedade. Os serviços públicos também não estão disponíveis às pessoas que residem nas favelas, dificultando o acesso à educação e saúde de qualidade. E é ali onde os direitos humanos estão frágeis, vulneráveis e muitas vezes violados, principalmente da juventude negra, as mulheres e outras tantas minorias.
Nestes momentos de polarização e intolerância que presenciamos nos debates políticos, é indispensável destacar que são nessas favelas que encontramos pessoas que são símbolo de resiliência e organização para mudar sua realidade a partir de suas comunidades. O cuidado para não criminalização a pobreza deve ser dobrado e entender que as favelas são consequência de uma falha da sociedade para com essas pessoas, em todos os níveis anteriormente mencionado. É por isso que sempre convidamos às pessoas a conhecerem essa realidade, as favelas e principalmente as pessoas que lutam diariamente pelos seus direitos nos espaços mais esquecidos das nossas cidades.
A importância de encontrar o fim da pobreza já foi argumentada de diversas formas e atinge um patamar importante a nível internacional por ser o primeiro dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Precisamos pressionar nossos governos para priorizar essa pauta por meio de esforços conjuntos para trabalhar a pobreza. Iniciativas das comunidades, governamentais e não governamentais para construir alternativas econômicas, de assistência social, educação, trabalho e infraestrutura urbana a partir da realidade das favelas e seus moradores, levando em conta principalmente os direitos humanos e a participação cidadã.
Enfrentamos um momento de crise, mas também estamos em um momento de pensar o futuro do país a partir de nossos distintos espaços de atuação. Precisamos reforçar a necessidade de uma visão de diretos humanos e democracia como base para os programas de redução de pobreza e desigualdade do nosso país. Aproveitamos a data de hoje para refletir sobre a nossa escolha daqui 11 dias. Vamos buscar propostas de participação cidadã, diretos humanos e democracia para a construção de um país mais igual e sem pobreza.
Nina Scheliga, gestora executiva da organização internacional TETO Brasil.