Por Amanda Cristina
Mônica Melchiades Leonardo é moradora da comunidade Vila Moraes há 11 anos. Hoje, ela vive com o marido Tarcísio e os quatro filhos, eles já estão no terceiro mandato na Associação de Moradores da Vila Moraes. Tarcísio com o cargo de Presidente e ela com o de Vice-presidente. Aos oito anos, Mônica veio da cidade Dois Córregos no interior para a Cidade Júlia aqui em São Paulo. Morava com a mãe, avó e tia. Ela conta que desde a infância passou por situações extremas que a faziam tomar a decisão de fugir para conseguir se ver livre de tudo o que passava.
“Eu vou contar uma história para você que é muito importante, principalmente agora com o Dia Internacional da Mulher, porque muitas se sentem acuadas e com medo de contar para os outros”, inicia a moradora. Mônica lembra que desde quando ela era pequena, a mãe era alcoólatra, e por conta disso, vivia na instabilidade, sendo levada para a casa de várias tias diferentes dependendo da disponibilidade de cada uma. Até que em certo momento antes dos 12 anos, ela começou a sofrer mais uma situação extrema na casa de uma dessas tias. “Havia uma dessas casas que eu ia que era da minha tia, nessa casa o marido dela mexia comigo. Minha mãe sabia, minha tia sabia e a minha avó sabia, só não sabia essa minha tia que era casada com ele. Isso tudo acontecia antes dos meus 12 anos.” relembra Mônica.
Ao completar os 12 anos, ela tomou uma decisão: parou de estudar e saiu da casa da avó, indo morar com uma senhora conhecida da família. Tudo para conseguir fugir dos abusos. Só aos 22 anos, quando estava grávida do primeiro filho, que Mônica contou para toda a família o que havia suportado na infância. “Como na época esse marido da minha tia ajudava financeiramente a minha avó, ela não me deixou contar para ninguém com medo do casamento terminar”, disse.
Mônica também foi obrigada a fugir no seu primeiro casamento. O marido bebia muito e batia nela. Na época trabalhava em um grande hotel na região central de São Paulo e foi obrigada a abandonar tudo. “Chegou um momento em que eu não aguentava mais apanhar eu fugi com meu filho pequeno só com as roupas do corpo”, conta.
Ano passado ela se candidatou para vereadora. Chegou todo o material, mas começou a receber algumas ameaças. Por conta disso, teve que desistir no meio do caminho. “A comunidade tem mais de 50 anos e não tem nem água e nem luz. Eu pedi benefícios para a comunidade como condição para eu retirar a minha candidatura. E a água chegou. A luz ainda não, mas estamos lutando para isso”.
Uma das grandes conquistas da moradora foi tirar o filho das drogas. Ela explica que foi um período de muito sofrimento e muita luta diária. Hoje ele trabalha na Prefeitura de São Bernardo e estuda na mesma classe que a mãe. Estão na 7ª série e um ajuda o outro com as lições. “Eu não desisti do meu filho, mesmo com todos falando para eu colocá-lo para fora de casa. Eu já fiz muitas loucuras para salvar ele dessa vida.” lembra Mônica.
A moradora conta que voltar a estudar está sendo bem complicado, pois tudo é muito diferente da época em que ela estava na escola. Na primeira semana, quando o professor colocou o conteúdo na lousa, ela levou um choque por não entender nada, mas com o passar do tempo foi se adaptando. Antigamente, ela odiava matemática, mas hoje por conta de um bom professor, essa é a matéria preferida dela.