Por Fernanda Lima Silva, Guilherme Prado e Ygor Santos Melo
Parceria entre TETO, FGV (FGV – Fundação Getulio Vargas) e Universidade de Warwick (University of Warwick) propõe método inovador de mapeamento, ampliando o diálogo e a participação das comunidades.
“Realmente é muito melhor quando a gente sabe dizer ao certo onde estão os problemas”
“Eu, por exemplo, sempre recebo as pessoas da vigilância sanitária, do posto de saúde, ia ser bom ter um mapa pra mostrar tudo certinho”
(Naiara Rocha, liderança comunitária da Ocupação GK, MG, 2022)
Mapas são bastante utilizados na sociedade contemporânea, constituindo-se em uma excelente ferramenta para representar o mundo em que vivemos. Eles ilustram de forma reduzida uma determinada área, como uma comunidade ou assentamento popular, e transmitem informações variadas sobre aquele território, como suas ruas, quantas moradias existem e qual a distância deste local a serviços públicos.
São também essenciais para orientar a tomada de decisão de gestores e funcionários públicos. O planejamento de uma agente comunitária de saúde, por exemplo, é facilitado quando ela tem um mapa que mostra as ruas e a localização das casas em que moram as famílias que ela acompanha. De modo similar, todo projeto de intervenção e melhoria urbana em comunidades se baseia em mapas, que mostram a configuração presente e a planejada dessa área.
No entanto, sabemos que nem todos os territórios estão mapeados. Por problemas associados à transformação constante dos territórios nas comunidades e da reduzida capacidade de governos municipais para lidar com isso, muitas das áreas em que a TETO atua não estão devidamente representadas em mapas oficiais. Não é raro que os mapas dessas áreas estejam desatualizados ou sejam inexistentes.
Para lidar com esse problema de ausência de dados geográficos, bem como para engajar moradores de comunidades e estudantes universitários com processos de mapeamento participativo, a TETO, o Centro de Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas (CEAPG FGV) e a Universidade de Warwick desenvolveram um novo método, denominado mapeamento dialógico participativo.
Este visa promover a co-produção de dados geográficos sobre esses territórios , incluindo a sua infraestrutura e a percepção dos moradores sobre os riscos, as potencialidades e os seus principais problemas, além de promover reflexões sobre o processo de mapeamento e possíveis desdobramentos.
A tônica presente na TETO de promover o trabalho conjunto entre o voluntariado e moradores de comunidades em esforços para construção de uma sociedade justa foi um dos pilares para implementação do projeto.
Ao unir o modelo de trabalho de Cartografia Social desenvolvido pela TETO com o método de engajamento comunitário na co-produção de dados e as experiências em mapeamento participativo do projeto internacional Dados à Prova d’Água, coordenado por pesquisadores das universidades de Glasgow e Warwick e da Fundação Getúlio Vargas, buscou-se uma prática de pesquisa crítica e interativa, em que os dados gerados fomentam reflexão sobre a realidade local e vias de transformação.
O projeto de pesquisa foi desenvolvido entre março e junho de 2022 em três comunidades: bairro 06 de Agosto, em Rio Branco – AC, Ocupação Guarani Kaiowá, em Contagem – MG e comunidade do Cai Cai, em São Paulo – SP. O processo de desenvolvimento desses mapas resultou na estruturação de quatro etapas, que compõem o novo método:
- Conhecer o território e mobilizar lideranças comunitárias;
- Identificar dados geradores e aplicar mapeamento afetivo;
- Produção de mapas geográficos com plataforma colaborativa Open Street Maps e de mapas temáticos de percepção de riscos;
- Avaliação e olhar crítico
No âmbito da proposta de um método dialógico participativo, foi possível uma co-produção de dados de forma orgânica, com dois aspectos inovadores: flexibilidade metodológica permitindo adaptações a partir da leitura do cenário local, e a participação ativa e crítica dos moradores como pesquisadores da sua própria realidade.
Os resultados obtidos pelo projeto são variados e incluem a sistematização dos métodos em um manual para aplicação por estudantes e outro com a apresentação do método para comunidades. Além disso, os mapas produzidos já foram distribuídos para agentes comunitários de saúde na ocupação Guarani Kaiowá em Minas Gerais. Também foram disponibilizados para associação de moradores do bairro 6 de agosto, em Rio Branco, Acre, onde servirão como base para planejamento de projetos futuros de infra estrutura.
Os resultados foram tão inspiradores que culminaram em um novo projeto, que será realizado no primeiro semestre de 2023 e terá como objetivo disseminar a experiência de mapeamento dialógico participativo em outras comunidades de Minas Gerais.
Conferências cívicas também ocorrerão nos três territórios onde o projeto foi desenvolvido em sua primeira fase, que são eventos em que moradores se organizam e apresentam suas percepções sobre as potencialidades e problemas das comunidades em que habitam, as quais fundamentam um processo de diálogo com atores governamentais e especialistas.
Para saber mais sobre este projeto entre em contato com:
Fernanda Lima Silva – Pesquisadora do Centro de Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas (CEAPG FGV) – fernanda.silva@fgv.br
Ygor Santos Melo – Gerente das Áreas Sociais da TETO – ygor.melo@teto.org.br