*Por Aline Khouri
Moradia é muito mais do que uma estrutura física. Essa foi uma das mensagens centrais do jantar anual da TETO Brasil, um encontro marcado por dados, histórias e reflexões profundas sobre o papel da casa na vida das pessoas e no futuro do país.
Layanne Paixão, diretora-geral da TETO, compartilhou sua trajetória na instituição e relembrou os primeiros anos de atuação, quando acompanhava de perto as construções de moradias de emergência, especialmente no Nordeste. Foi a partir dessa vivência que fez ao público uma pergunta simples e provocadora: “Que história existe se não existe uma casa?
Sob a condução de Saville Alves, mestre de cerimônias e voluntária da TETO há muitos anos, o evento reuniu apoiadores, lideranças comunitárias e parceiros que participaram de uma dinâmica que propunha respostas à seguinte pergunta: “O que significa casa para você?”
Em uma das mesas, os participantes mencionaram sentimentos como segurança, aconchego, afeto e fortalecimento. “Casa é tudo”, “ponto de partida”, reforçaram. Saville falou de sua história para ajudar a explicar essa dimensão: “Foi na TETO que meu verdadeiro adultecimento aconteceu”.
Sua experiência na organização ressignificou completamente o sentido que atribuía à casa, mostrando que é algo que vai além de paredes e teto, e se conecta com o cuidado e a dignidade.
A urgência da moradia digna
Os números apresentados durante o jantar reforçam a urgência de um lar digno. Segundo os dados mais recentes da Fundação João Pinheiro (FJP), o déficit habitacional no Brasil está em cerca de 5,9 milhões de moradias, número que foi divulgado em um estudo apresentado neste ano. Antes de sonhar, como foi lembrado no evento, é preciso ter um lugar seguro para deitar, dormir e pensar no básico.
É nesse contexto que a atuação da TETO ganha escala e relevância. Em 2024, a organização construiu 113 moradias em diferentes regiões do país e executou 76 projetos voltados à melhoria das condições de vida em comunidades.
A TETO Brasil acredita que, até 2030, é possível construir um Brasil sem pobreza extrema, casa por casa. A meta é clara: garantir que cada vez mais famílias possam viver com dignidade e segurança.
Durante o evento, foi compartilhado que a captação atual da organização gira em torno de R$ 1,8 milhão, com foco em investimentos para 2026. O jantar teve uma meta de arrecadação de R$ 2 milhões, um passo fundamental para dar continuidade e escala às ações da TETO.
Lideranças comunitárias mostram como a moradia transforma vidas
As falas de lideranças comunitárias deram ainda mais concretude a esse impacto. Bia Carvalho, liderança comunitária do Jardim Lapenna, na zona leste de São Paulo (SP) destacou que as famílias que recebem as casas não são as únicas beneficiadas, mas também todas as pessoas que participam desse processo.
Em comunidades onde crianças passaram anos com medo da chuva, onde havia um banheiro para dezenas de famílias, a chegada de uma moradia construída pela TETO representa educação e esperança.
“Não é só sobre ter um vaso sanitário, uma torneira ou esgoto. Isso é dignidade. Ao receberem suas casas, muitas famílias voltaram a sonhar. Elas voltaram a jantar à mesa e uma moradora disse que não fazia isso há muitos anos”, relatou.
Outro ponto destacado foi a relação entre moradia e crise climática. Em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais intensas, a casa se torna a primeira linha de defesa das famílias mais vulnerabilizadas. Tudo começa pela moradia e protegê-la é também uma estratégia de adaptação e resiliência.
Moradia como ponto de partida para um futuro sem pobreza
Para moradores das comunidades, a definição é clara: a casa não é apenas o fim de uma história de precariedade, mas o início de uma nova trajetória possível. Essa visão é compartilhada pelos colaboradores da organização.
A moradia emergencial não é o ponto final, mas o primeiro passo para que famílias tenham condições reais de construir um futuro melhor. Em 2024, a TETO mobilizou 8.134 pessoas voluntárias em todo o país, fortalecendo projetos construídos de forma coletiva.
Além da participação de Bia Carvalho, o evento contou com a presença de Magrão, liderança do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ) que conversou com Camila Jordan, diretora de Relações Institucionais e Incidência da TETO.
Durante o diálogo, Camila enfatizou a importância da moradia emergencial em um contexto marcado pela crise habitacional e pela pobreza, desafios que vêm sendo intensificados pela crise climática. Ela explicou que garantir moradia digna é fundamental para oferecer proteção, estabilidade e condições mínimas para que famílias possam reconstruir suas vidas.
Camila também destacou a parceria da TETO com a Fundação Tide Setubal, que já possibilitou a construção de 51 moradias resilientes no Jardim Lapenna, reforçando o compromisso da organização com soluções habitacionais que dialogam com a realidade dos territórios e com a adaptação às mudanças climáticas.
Emocionado, Magrão compartilhou a força das relações construídas entre voluntários e moradores ao longo das ações da TETO. “O poder de troca entre voluntários e moradores é algo incrível e surreal. A TETO, para mim, é uma potência enorme”, afirmou ele, que foi tão impactado pela organização que decidiu ser voluntário e hoje incentiva seu filho a seguir o mesmo caminho.
Camila reforçou que as lideranças comunitárias são essenciais para que a TETO consiga tecer laços de confiança com as comunidades, fortalecendo processos de transformação construídos de forma coletiva e duradoura.
Sem moradia não há futuro possível
O jantar foi encerrado com o painel “Qual o futuro que você vai escrever com a TETO hoje?”, que convidou o público a refletir sobre o papel de cada pessoa na construção de um país mais justo.
A conversa reuniu Giovanna Maradei, gerente de Comunicação da TETO; Ygor Santos Melo, arquiteto e urbanista que atuou como Gerente Nacional de Programas Sociais da organização; e Thiago Fernandes, líder de ESG para a América Latina no Bank of America, que é um dos principais parceiros da TETO.
A partir de diferentes trajetórias, o painel destacou como o engajamento com a TETO — seja como voluntário, apoiador ou parceiro — pode transformar não apenas comunidades, mas também quem escolhe caminhar junto com a organização. Mais do que um fechamento, o momento funcionou como um convite à ação: o futuro que queremos construir começa nas decisões feitas hoje.
Construa o ponto de partida de novas histórias
Garantir moradia digna é assegurar que histórias possam existir.
É permitir que famílias voltem a sonhar, que crianças durmam sem medo da chuva, que mesas voltem a ser lugar de encontro e esperança.
A pergunta que ecoou no jantar anual da TETO Brasil segue aberta para todos nós: Que futuro queremos construir se ainda faltam casas para milhões de pessoas?
Você pode fazer parte dessa resposta. Ao apoiar a TETO Brasil, você ajuda a transformar moradia em ponto de partida e dignidade em realidade. Doe e ajude a construir, casa por casa, um Brasil sem pobreza.
*Editora do blog da TETO Brasil
