Por Natália Mota
“A pobreza é fácil de denunciar, mas difícil de combater. Aqueles que sofrem com a fome, a miséria e a falta de dignidade precisam mais do que palavras simpáticas; eles precisam de apoio concreto”.
A mensagem passada em 2012 pelo então Secretário da ONU, Ban Ki-moon, no dia internacional da erradicação da pobreza, que ocorre neste mês, já apontava a importância das agendas de ação para combater desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável no mundo.
Em setembro de 2015, 17 objetivos e 169 metas a serem alcançadas pelos países até 2030, foram aprovadas pelas 193 nações na sede da ONU em Nova York com o documento “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.
Entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) apresentados, encontram-se representadas as três dimensões da área: a econômica, a social e a ambiental. Mas afinal, como essas ações se fazem presentes no nosso dia-a-dia?
De acordo com a previsão da ONU apresentada em 2014 no relatório sobre o aumento da população urbana, em 2050 as cidades do mundo terão 2,5 bilhões de novos moradores além dos 3,9 bilhões atuais. Em 2030, a projeção é que 13 novas megacidades – com 10 milhões de habitantes ou mais – se somem às 28 já existentes.
Considerando que os altos índices de pobreza extrema, desigualdade social e violência se concentram nas cidades; o objetivo número onze do documento que visa “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” se torna uma medida urgente, assim como a sua meta de “garantir o acesso de todos a moradia segura e aos serviços básicos e reconhecer a necessidade de urbanizar as favelas”.
Para Barbara Herthel, diretora nacional de formação e voluntariado da organização TETO Brasil, o ODS 11 é um dos objetivos mais ambiciosos uma vez que relaciona desenvolvimento urbano e a necessidade do enfrentamento para urbanizar assentamentos precários e favelas e melhores condições de vida para a população.
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Barbara aponta a importância do trabalho horizontal do TETO com as comunidades nesse cenário e de suas ações, do diagnóstico e construção à disseminação de conhecimento sobre favelas no nosso país. “O TETO colabora com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 é uma vez que visa promover o Direito à Cidade e transformar os locais mais precários do Brasil em Comunidades Sustentáveis, por meio do protagonismo dos moradores e moradoras, da participação da juventude e do engajamento de todos os atores da sociedade”, conta.
Entre os desafios para o alcance do objetivo, a diretora ainda aborda o cenário atual brasileiro e a redução do orçamento do Ministério das Cidades, que significa também a diminuição drástica no investimento em saneamento básico e urbanização de favelas.
Entende-se por sustentáveis as comunidades que possuam processos autogestionáveis, que trabalham em rede com outras comunidades e organizações, e planejam as suas ações a médio e longo prazo. Para Rosângela, mais conhecida como “Fia”, moradora da comunidade Portelinha, em Guarulhos, a ideia de sustentabilidade ainda está muito distante de sua realidade. “Sempre tem um ponto nesses debates em que as pessoas mais pobres são diferenciadas e esquecidas. Para mim, o primeiro passo para uma comunidade ser sustentável é a gente ser olhado e ter a nossa opinião ouvida. ”
Conectar a agenda global a ações locais fomenta a importância das entidades e lideranças comunitárias pensarem juntas em atividades de desenvolvimento e reflexões sobre os espaços que são hoje segregados dos direitos básicos de acesso às cidades.