Elza e Larissa nasceram e vivem até hoje na Bahia, 4º estado do país com o maior número de mulheres negras (quase 80% do total das mulheres são negras). “Ainda assim, desde a infância enquanto mulher negra, sempre sofremos com o preconceito racial”, conta Larissa.
Larissa Guedes tem 23 anos e diz que “quando crianças odiamos nossa pele, nosso cabelo e começamos a alisar desde cedo. Nas escolas, sempre temos os piores apelidos. Acontece uma forma de falsear nossa negritude, então começamos a ser moreninha, da cor do pecado, mulata, negra bonita, negra de traços finos”.
Já na adolescência, Larissa afirma que “escutamos que não somos boas o bastante no que fazemos e que, para sermos boas, temos que nos esforçar muito, temos que ser muito melhor que qualquer pessoa”. Larissa reconhece seu privilégio de ter nascido com uma condição financeira que a permitiu estudar, por exemplo, mas ainda assim, ela já sofreu várias vezes com o preconceito, o que a faz pensar no quanto ainda está por vir. “Tenho medo de ter uma filha mulher e imaginar o preconceito que ela também irá sofrer”.
Elza tem 43 anos, mora na comunidade Paz e Vida, em Salvador (BA), e conta que durante a sua vida sofreu muito preconceito por ser negra. Seus pais não tinham boas condições e seu primeiro emprego foi como doméstica em uma casa, onde seus patrões eram brancos e ela se sentia humilhada e escravizada. “Mas eu coloquei em mim que eu não merecia aquela vida, que eu não iria mais sofrer aquele preconceito. E comecei a me esforçar para mudar a minha realidade”.
Hoje, Dona Elza conta que é uma mulher feliz e realizada. “Sou uma mulher negra. Me aceito como sou. Me amo de verdade do jeito que vim ao mundo, com a minha pele, com o meu ‘cabelo duro’. Dou valor a esse cabelo. Acho que o mais importante é sempre nos valorizarmos e aceitarmos quem somos. E se ouvirmos alguma ofensa, devemos continuar nosso caminho com a cabeça erguida”, conclui.